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Lição 12ª - As consequências do jugo desigual


PELA DEFESA DO CASAMENTO BÍBLICO

  • Escrito por Ezequiel Carvalho, professor da classe dos jovens






Infelizmente por motivos pessoais o comentarista convidado por Flávio não pôde escrever o comentário a essa lição e escusou-se do convite feito. Tendo isso ocorrido, Flávio me convidou a substituí-lo, cobrindo a lacuna deixada, o que, de pronto, aceitei. Espero contribuir para o entendimento de um assunto que jugo ser de extrema importância.







O jugo desigual    



Análise do contexto histórico

Neemias governou Israel por um período de aproximadamente 12 anos e depois desse tempo voltou à Pérsia. No tempo em que passou com o povo judeu ele foi responsável pela edificação dos muros e suas portas, além do maior avivamento espiritual realizado no pós-exílio até aquele momento, com a exposição das Sagradas Escrituras e o arrependimento do povo.

Mas como qualquer avivamento feito até hoje, o de Neemias não se perpetuou. Para sermos bastante sinceros e rigorosos, não durou muito tempo, pois a ausência de Neemias por apenas “alguns dias” (Neemias 13.6) provocou um retrocesso em relação ao cumprimento da Lei.

De volta Neemias realizou uma reforma sobre três focos distintos.

Primeiro corrigiu os desmandos do sumo sacerdote Eliasibe, o qual tinha feito dentro do templo uma câmara grande para Tobias habitar, onde dantes se depositavam as ofertas de alimentos, o incenso, os utensílios, os dízimos do grão, do mosto e do azeite, e a oferta alçada para os sacerdotes.

Neemias desapropriou Tobias e ordenou que se purificassem as câmaras e que tornassem a trazer para ali os utensílios da casa de Deus, com as ofertas de alimentos e o incenso. A população, que pelo erro de Eliasibe tinha deixado de ofertar à Casa do Senhor, voltou a contribuir. Com isso fez Neemias uma restauração no serviço ministerial do templo, marcado pela lisura, transparência e competência, onde se lê:

Então contendi com os magistrados, e disse: Por que se desamparou a casa de Deus? Porém eu os ajuntei, e os restaurei no seu posto. Então todo o Judá trouxe os dízimos do grão, do mosto e do azeite aos celeiros. E por tesoureiros pus sobre os celeiros a Selemias, o sacerdote, e a Zadoque, o escrivão e a Pedaías, dentre os levitas; e com eles Hanã, filho de Zacur, o filho de Matanias; porque foram achados fiéis; e se lhes encarregou a eles a distribuição para seus irmãos (Neemias 13.11-13).

Outra questão enfrentada por Neemias foi o desrespeito à ordenança da guarda ao sábado que o povo estava praticando por pura ganância, pois se diz que aqueles que produziam vinho e que vendiam uvas e figos e aqueles que compravam peixe o faziam no dia de sábado, ou seja, para se obter lucros financeiros, os judeus estavam esquecendo-se da adoração a Deus e dedicando-se exclusivamente aos seus negócios. O que Neemias proibiu. Todos os dias poderia se trabalhar, vender e comprar, mas o sábado seria dedicado ao Senhor.

No entanto, de todas as reformas praticadas por Neemias, a mais delicada, foi sem sombra de dúvidas, a que ele fez em relação aos casamentos mistos (judeus com não judeus). Pois nesse caso ele ordenou a dissolução de famílias, com a justificativa de que esses matrimônios estavam em desacordo com a lei divina.

Essa atitude revela que Neemias não cobiçava o poder político para si, porquanto esse tipo de ação era totalmente impopular, em certa medida, atrairia para ele apenas a animosidade da população israelita. Mas quais razões o levaram agir dessa forma, tomando essa decisão completamente radical, estaria Neemias certo?  


O casamento e o divórcio, um exame abrangente
 

Mesmo antes de a nossa legislação reconhecer que o casamento é a base da sociedade e que deve ser protegido pelo Estado (art. 226, Constituição da República Federativa do Brasil), a Bíblia já se posiciona sobre isso dizendo que o casamento é indissolúvel. Porquanto nos relata o livro de Gênesis que de dois, Deus fez um (2.21-22), portanto assim quando as pessoas se casam não são mais dois, mas uma só carne. Assim sendo, o que Deus ajuntou não o separe o homem (Mateus 19:6).

No entanto o que se vê? Recente um estudo do IBGE mostrou que em média um casamento no Brasil dura 16 anos e quase a metade dos casamentos acaba aos 10 anos de matrimônio. No ano passado 243.224 casais se separaram, um número que cresce todo ano e que em 2010 bateu o seu recorde histórico.

Obviamente não se quer dizer aqui que uma pessoa deva ficar sofrendo, na ideia equivocada que o amor tudo deve suportar. Realmente a Bíblia diz que o amor tudo suporta, mas Cristo deixou claro que há situações em que o casamento já não é mais casamento, já que não representa mais o desejo de Deus para a vida dos seus servos.

No tempo de Jesus, havia uma controversa teológica muito importante que contrapunha duas tradições rabínicas díspares sobre o entendimento do matrimônio e a possibilidade do divórcio. Uma era a concepção trazida pelo rabino Shammai e a outra pelo importantíssimo rabino Hillel.     

A divergência de opiniões residia na interpretação do texto contido em Deuteronômio 24.1 (único no Antigo Testamento que fala especificamente dos critérios necessários para permissão do divórcio):

Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de repúdio, e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa (Deuteronômio 24:1).

Os adeptos da teoria de Hillel diziam que Moisés quis dizer que se poderia dar carta de divórcio quando houvesse algo indecente ou apenas se o marido não achasse graça na sua esposa, já quem seguia Shammai defendia que Moisés disse que os critérios deveriam ser dois, assim sendo mesmo se o marido não achasse mais prazer na sua esposa ele só poderia se divorciar se fosse por ele encontrado alguma “coisa indecente” nela.

De qualquer forma a separação nos tempos de Cristo era algum muito incomum. Somente o marido poderia pôr fim ao casamento, mas para isso ele teria que pagar uma pesada indenização e devolver o dote. O que fazia que a doutrina de Shammai prevalecesse, mas apenas por comodismo, já que se divorciar por gosto (ou falta dele no caso) acarretaria num prejuízo financeiro muito grande ao marido. 

Jesus então foi compelido a responder essa questão, posicionando nesse embate teológico. Ele concordou com Hillel sobre o entendimento de que Moisés tivesse permitido o divórcio por qualquer motivo, mas segundo Jesus a lei foi criada para amenizar a maldade humana: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim (Mateus 19:8).  

Por que no princípio não foi assim? Porque o propósito de Deus é que as pessoas vivam felizes na construção da vida a dois, como no Éden. O Éden não é só o paraíso terrestre, mas o ideal da família: E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne (Gênesis 2.23-24).

Cristo então inverte a perspectiva, ainda que preserve pontos da doutrina de Shammai, em vez de falar sobre o divórcio valoriza o casamento como um antídoto natural contra a separação e a infelicidade dos casais. Dessa forma diz: Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério (Mateus 19.9).

Jesus então proíbe um segundo casamento motivado apenas por razões que não seja o adultério. O casamento é único, só deve acontecer apenas uma vez. Ao ouvir isso todos os judeus se espantaram e os próprios discípulos comentaram com o mestre: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar (Mateus 19.10).

De fato, se for para casar apenas para casar, sem nenhuma reflexão, apenas porque acha fulano ou sicrana de boa aparência, ou por alguma forma de interesse, ou ainda inconseqüentemente, não convém casar. Para Jesus então o casamento é fundamental, pois se todos casassem bem, a sociedade seria mais sadia e não se falaria em divórcio.

Mas voltando aquele estudo realizado pelo IBGE, constata-se que o número de divórcios é grande, mas o de casamentos também, se casa hoje muito mais do que antigamente. E o que isso nos explica? Revela-nos aquilo que Cristo mostrou, as pessoas se casam por casar. Há pessoas públicas em que se sabe que casou umas sete vezes e que um dos seus casamentos durou apenas uma semana!

Hoje acontece algo parecido com que ocorreu com Sansão. Que diz a Bíblia sobre o juiz? E desceu Sansão a Timnate; e, vendo em Timnate uma mulher das filhas dos filisteus, subiu, e declarou-o a seu pai e a sua mãe, e disse: Vi uma mulher em Timnate, das filhas dos filisteus; agora, pois, tomai-ma por mulher (Juízes 14:1-2).

Impressionante, ele nem mesmo a conhecia, apenas desceu a Timnate e vendo uma das jovens dos filisteus, subiu e disse ao seu pai quero casar com ela. O fim dessa história todos nós conhecemos, Sansão teve sua alma despedaçada.

Chegamos, pois ao momento em que o contexto de Neemias nos parece mais claro. Os judeus voltaram a repetir o mesmo erro dos seus líderes e se deixaram levar pela lascívia, desposando quem eles quisessem, rejeitando a aliança com Deus e condenando sua descendência ao desconhecimento dos preceitos sagrados.




A atitude de Neemias, comparação com a teologia do casamento expressa por Paulo em I Coríntios 7

  
Paulo no Novo Testamento também se mostrou radical. Ele compreendia tanto a responsabilidade oriunda do casamento que chegou a dizer exageradamente que: bom seria que o homem não tocasse em mulher (I Coríntios 7:1).

Paulo tinha a mesma visão de Neemias sobre o casamento misto, mesmo aqueles que estão juntos por boas intenções devem ter em mente isso: Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher? (I Coríntios 7.16).

No entanto ele discordava que o caminho era despedir o cônjuge não crente. Pois diz: Mas aos outros digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe (I Coríntios 7.12).

Por que a atitude de Neemias foi diferente? Porque esse mesmo povo havia jurado que não contrairia esse tipo de casamento, não daria suas filhas aos estrangeiros nem tomaria dos povos vizinhos ninguém para se casar com seus filhos (Neemias 10.30). Há um verdadeiro contraste entre a fidelidade de Neemias ao Senhor com a desobediência praticada pelos filhos de Israel.

Neemias os conclamou para o bom senso. Disse ele que não havia uma forma segura de não fazer com que houvesse uma mútua influência entre os casais. Essa influência, contudo, era danosa para os judeus.

O profeta Ageu nos dá uma ilustração muito boa sobre essa questão. Ele questionou: se uma pessoa toca numa veste santificada ao Senhor, essa pessoa tornar-se-á pura por causa disso? A resposta é não. Agora, se uma pessoa vestindo uma roupa santificada ao Senhor, sendo ele também cerimonialmente limpo, colocar em algo impuro em si, ficará essa pessoa deixará de ser limpa? A resposta é sim, essa pessoa e suas vestes ficariam impuras (cf. Ageu 2.11-13).

E Neemias citou um exemplo perfeito: o rei Salomão. Sendo o rei não só o mais poderoso de sua terra e o homem mais inteligente do mundo, ele próprio se deixou seduzir pelas suas esposas e curvou-se diante dos ídolos delas para agradá-las. Não existe imunidade em casamentos mistos. O nível de perigo, independente da quantidade e qualidade da fé do cônjuge cristão, é muito alto para se arriscar. O risco aqui de desvio é alto, tornando inaceitável a sua atitude.

Obviamente permaneçamos seguindo a autoridade apostólica, do qual a igreja foi alicerçada em Cristo para o crescimento pleno na verdade. Se existe um casamento de cônjuges de fé diferentes, e o cônjuge não cristão consente nisso também, respeitando a fé do cônjuge cristão, que esses não se separem.

Mas Neemias nos faz uma advertência que deveria ser ensinado abertamente nas nossas congregações, que os jovens levem a sério o namoro, o noivado, o casamento. É por não existir uma conversa tão franca como esta, que muitos jovens se têm contaminado, e outros se têm casado mal e sofrem terrivelmente por causa disso, perdendo as promessas de Deus. Todavia que seja dito em alto e bom som aquilo que a Bíblia perfeitamente nos ensina:  

Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus (I Coríntios 10.31-32).          






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