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Lição 4ª - Amós - Política e justiça social como parte da adoração



A irmã Sara por causa de compromissos de última hora não pôde publicar o comentário desta lição. Eu fiquei com a incumbência de substituí-la. Peço humildemente desculpas a todos os irmãos, leitores deste blog, por está postando somente agora o comentário da lição, alguns compromissos também e contratempos impediram a publicação em tempo anterior a este. Espero, contudo, que vocês sejam por Deus ricamente abençoados por este comentário, servindo para exortação e vossa edificação.


Escrito por Ezequiel Carvalho, professor da classe dos jovens



O profeta Amós e o Cristianismo Social


Quando falamos de pensamento social da Igreja, vem-nos logo a mente a doutrina social da Igreja, a encíclica de Leão XIII: Rerum Novarum (1891), em relação aos católicos, e em relação aos protestantes, a “Instituição da Religião Cristã” de Calvino (1559), se bem que a encíclica é mais específica e retrata um contexto histórico mais aproximado da nossa realidade, portanto mais prático. No entanto, se quisermos nos ater apenas à Bíblia, já encontraríamos material suficientemente farto para se falar de um pensamento cristão a respeito do tema em tela.

No Antigo Testamento, temos a figura do profeta Amós, dentre outros. Nascido em Tecoa, território do interior do Reino de Judá (Amós 1.1), era pastor de ovelhas e cultivador de Sicômoros (7.14). Ele profetizou contra a injustiça social, afirmando ser isso um grave descumprimento da Aliança. É a respeito desse profeta em especial que vamos tratar a partir de agora.

O autor do livro sagrado fala que Amós foi comissionado por Deus a profetizar em Israel, nos dias de Uzias, rei de Judá, e nos dias de Jeroboão II, rei de Israel, dois anos antes do terremoto (1.1). Segundo fontes históricas tradicionais, o rei Uzias reinou em Judá entre 792 a 740 a.C., e Jeroboão II reinou em Israel entre 793 a 753 a.C. O período em comum é 792 a 753 a.C..

Há uma referência interessante sobre um terremoto que afetou a região, mas sobre o qual temos muitas informações, a não ser dos próprios livros bíblicos, como o do profeta Zacarias (14.5).  Ao que indica é mais provável que Amós queira mostrar que suas profecias foram ditas antes que a catástrofe acontecesse. Com o intuito de dar maior peso às predições feitas, as quais acontecer.

E isso porque quando uma profecia é dada, a princípio torna-se motivo de escárnio. Quando Amós disse que se secaria o cume do Carmelo (1.2), ele estava dizendo que uma das regiões mais férteis de todo Israel iria secar. Quem o ouvisse diria: “o que este louco está falando?” Mas Deus orienta-nos, nos chama a realidade, antes que o mal nos sobrevenha, antes dos terríveis terremotos. O triste é que muitas vezes não damos ouvidos à voz de Deus. Depois de uns 40 após a profecia de Amós, a capital de Israel, Samaria é saqueada e destruída e povo levado em cativeiro pela Assíria.

No seu ministério, primeiro se dirigiu as nações vizinhas do povo de Deus: (Damasco, 1.3-5; Filístia, 1.6-8; Tito, 1.9,10, Edom, 1.11,12; Amom, 1.13-15; Moabe 2.1-3), fala à Judá, sua terra natal, (2.4,5), mas o enfoque especial recai sobre Israel. Há muito que se falar sobre os julgamentos dessas nações, por economia de texto, no entanto, e para não fugir do nosso foco, falaremos apenas sobre as profecias a respeito de Israel.

Se Amós fizesse apenas isso, profetizar ao povo de Israel, muitos outros fizeram antes dele. O que nos chama atenção, todavia, é como o profeta enxerga a quebra da Aliança.


Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Israel, e por quatro, não retirarei o castigo, porque vendem o justo por dinheiro, e o necessitado por um par de sapatos, suspirando pelo pó da terra, sobre a cabeça dos pobres, pervertem o caminho dos mansos (...) (Amós 2.6-7).

Portanto, visto que pisais o pobre e dele exigis um tributo de trigo, edificastes casas de pedras lavradas, mas nelas não habitareis; vinhas desejáveis plantastes, mas não bebereis do seu vinho. Porque sei que são muitas as vossas transgressões e graves os vossos pecados; afligis o justo, tomais resgate, e rejeitais os necessitados na porta (Amós 5.11-12).

Ouvi isto, vós que anelais o abatimento do necessitado; e destruís os miseráveis da terra, dizendo: Quando passará a lua nova, para vendermos o grão, e o sábado, para abrirmos os celeiros de trigo, diminuindo o efa, e aumentando o siclo, e procedendo dolosamente com balanças enganosas (Amós 8.4-5).


Amós observa, ainda antes de o Evangelho ser anunciado, que “amar ao próximo como a si mesmo” completa com “o amor a Deus acima de todas as coisas” o resumo de toda a lei e os profetas (cf. Mateus 22.35-40). O profeta lembra que Deus nos escolheu “de todas as famílias da terra” (Amós 3.2), não para que tivéssemos privilégios de semideuses, mas também obrigações como filhos do Reino.

Por isso permitir que o pobre seja pisado, rejeitá-lo na porta, humilhando-o e ainda assim agindo de maneira desonesta, a fim de que tal situação seja mantida é um grave pecado contra Deus. Essa falta de humanidade, de compaixão com outro ser humano, talvez seja a prova mais definitiva de quanto uma sociedade perdeu o caminho e se afastou de Deus.

E toda essa hipocrisia religiosa, de tentar agradar a Deus, mas rejeitando os próprios irmãos é verdadeiramente terrível. Num dos quadros mais assustadores pintados nas profecias de Amós, aparece um fato curiosamente aterrorizador:


Mas os cânticos do templo naquele dia serão gemidos, diz o Senhor DEUS; multiplicar-se-ão os cadáveres; em todos os lugares serão lançados fora em silêncio. Ouvi isto, vós que anelais o abatimento do necessitado; e destruís os miseráveis da terra (Amós 8:3-4).


Como pode cantar ao Senhor aqueles que ANELAM o abatimento do necessitado? Há um convite evidentemente muito claro para os membros da comunidade litúrgica se sensibilizarem com os que fora do templo, padecem necessidades. Nesse sentido, não devemos esquecer aquilo que São Lourenço falou diante do imperador Valeriano: os órfãos, os pobres, as viúvas, todos os que passam algum tipo de carência, seja ela material, emocional ou até mesmo espiritual: "Eis aqui os nossos tesouros, que nunca diminuem, e podem ser encontrados em toda parte”! Estes são as reais riquezas da Igreja.

Num período de hoje em que as festas eclesiásticas são apenas oportunidades para se lucrar, onde se abre igreja por motivos egoístas de poder e ambição pessoal. Onde há disputas e partidarismos dos mais vergonhosos. Onde cresce o número das bocas que invocam o nome do Senhor, mas onde a pobreza não retrocede, nem há indícios de uma justiça social sendo levantada como bandeira em nossas congregações, há algo de muito errado. E Amós nos dá dica daquilo que está acontecendo: Rejeitaram a lei do SENHOR, e não guardaram os seus estatutos, antes se deixaram enganar por suas próprias mentiras (...) (Amós 2:4).

Portanto antes mesmo de a Igreja afirma como seu dogma que: “os homens são todos absolutamente nascidos de Deus, seu Pai comum; que Deus é o seu único e comum fim, (...) que todos eles foram igualmente resgatados por Jesus Cristo e restabelecidos por Ele na sua dignidade de filhos de Deus, e que assim um verdadeiro laço de fraternidade os une, - quer entre si, quer a Cristo, seu Senhor, que é “o primogénito de muitos irmãos” (Rerum Novarum, 14), mesmo antes disso, a Bíblia de qual a própria Igreja se curva, já proclamava em alto som: cumprir a Aliança é entender o homem em sua unidade, suprir suas necessidades, sendo a maior delas a de Deus, como é manifesto, mas nunca esquecendo que a justiça social é dever da Igreja, embaixada de Cristo no mundo.






LIÇÃO 3ª- JOEL- O DERRAMAMENTO DO ESPÍRITO SANTO






ESTE COMENTÁRIO FOI ESCRITO PELO IRMÃO FLÁVIO JOSÉ PROFESSOR DA CLASSE DOS SENHORES









INTRODUÇÃO




O livro de Joel é uma das gemas literárias do Antigo Testamento. É edificado com cuidado e o efeito dramático e  pelo livro inteiro, há belezas que brilham intensamente e até deslumbram a imaginação. Tem chamado ateão para o fato "Se existe na Bíblia um livro que é uma obra prima de arte literária, é o livro de Joel. outros profetas que escreveram com maior paixão e maior poder, que se elevam as mais sublimes altitudes da revelação divina; mas dificilmente há um  escritor  do  Antigo  Testamento  que  tenha  demonstrado  empenho  mais cuidadoso, detalhado e primoroso para dar polimento, remate e beleza à sua obra literária".


"O  estilo  de  Joel  é  preeminentemente  puro.  Caracteriza-se  pela  fluência  e regularidade   no ritmos nas   sentea completas    na   simetria   dos paralelismos. Com o poder de Miquéias ele combina a ternura de Jeremias, a vivacidade de Naum e a sublimidade de  Isaías".


A MENSAGEM 


 Aconteceu de tal modo que, na providência de Deus, a terra ficou literalmente desolada  por  uma  praga  de  gafanhotos,  havendo  tal  escassez  de  alimentos que  provocou  a  descontinuação  das  ofertas  de  alimentos  e  das  libações  na casa de Deus (1.13). "Mas, embora tal praga possa ter, a prinpio, despertado extrema  apreensão  no  profeta  e  impulsionado  sua  alma  até  às  mais  baixas profundezas, depois de examinar suas palavras ficamos convencidos que elas se   referem   a   uma   ansiedade   vindoura   ainda   maior,   uma   incursão   de adversários  que  infligiria  terríveis  assolações  à  terra,  deixando-a  desolada  e nua atrás de si, segundo haviam feito aqueles gafanhotos".



Joel apareceu em Jerusalém para declarar que aquela invasão de gafanhotos era um quadro de uma visita de Deus, em ira e julgamento. Ele apelava em prol de um ato de arrependimento nacional, uma festa solene (2.12), e exortava os líderes religiosos a mostrar bom exemplo (2.15-17). Então profetizou  o  retorno  do  favor  de  Deus  e  da  prosperidade  da  terra  (2.18-20), bem como a remoção de seus inimigos (2.21-27). Depois disso, de um modo que não tem significação fora da inspiração divina, ele passou a descrever o derramament do   Espírit Santo   qu se   seguiri (2.28-32).   No   dia   de Pentecoste, o veredicto de Pedro foi: "isto é o que foi dito pelo profeta Joel" (A2.16). Adiante, Joel é levado a profetizar sobre a destruição final de todos os inimigos de Deus e de Seu povo (3.1-21).


Há dimensões tanto presentes quanto futuras em todas as aplicões de Joel no  Novo  Testamento.  Os  dons  do Espírito  que  comaram a  fluir  através do povo de Deus, no Pentecostes, ainda se acham à disposição dos crentes (1Co12.1—14.40). Além disso, os versículos que precedem a profecia a respeito do Espírito  Santo  (isto  é,  a  analogia  da  colheita  com  as  chuvas  temporãs  e serôdias, Jl 2.23-27) e os versículos que se seguem (isto é, os sinais que se darão nos céus no final dos tempos, Jl 2.30-32) indicam que a profecia sobre derramamento do Espírito Santo (Jl 2.28,29) inclui não somente a chuva inicial no Pentecostes, como também um derramamento final e culminante sobre toda raça humana no final dos tempos.


Tanto   Pedro   quanto   Paulo   usaram   esse   texto   como   uma   profecia   da dispensação  cristã  (At  2.16-21;  Rm  10.13).  Pedro  usou-o  para  confirmar  a validade  do  dom  de  línguas  no  Pentecoste;  Paulo  usou-o  para  confirmar  a validade da oferta de salvação pela a todo o mundo. Nenhum deles afirmou que  a  profecia  tinha  sido  totalmente  "cumprida"  no  Pentecoste,  mas  que  o derramamento do Espírito fazia parte dela. A primeira parte foi evidentemente cumprida no Pentecoste, isto é, o Espírito Santo foi derramado   para    proclamação   mundial   d salvação   simplesmente   pela invocação do nome do Senhor. A última parte, referente aos sinais divinos de perturbações  físicas  no  sol,  lua  e  céu,  não  ocorreu  naquela  ocasião,  mas acontecerá um  pouco antes do  "grande  dia da sua ira" (Ap  6.12-17).  É claro que Pedro citou integralmente a profecia no Pentecoste a fim de incluir a oferta universal  de  salvação  no  final  (Jl  2.32).  Tal  como  a  profecia  da  vinda  do Messias em Isaías 9.6-7, essa profecia da obra de graça do Espírito Santo e da obra do terrível julgamento tem duas fases, largamente distanciadas

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 PROMESSA DE PROSPERIDADE MATERIAL DEVIDA AO ARREPENDIMENTO


Joel   dá   uma   ênfase   especial   aos   benefícios   físicos   e   materiais   advindos   do arrependimento e obediência. Tal arrependimento, disse ele, removeria as pragas dos gafanhotos e da estiagem e restauraria as bênçãos da chuva, boas colheitas e proteção contra os inimigos (2.19-20). Essas promessas foram para Israel, não necessariamente para a Igreja do Novo Testamento. Os judeus achavam-se sob a aliança do Senhor e aqueles benefícios lhes tinham sido prometidos como frutos da obediência (Lv 26.14-20; Dt  11.13-17).  O  objetivo  do  Senhor  nessa  promessa  a  Israel  era  demonstrar  sua soberania sobre toda a natureza como um testemunho tanto para Israel como para as nações. Nenhuma aliança de "benefícios materiais" foi estabelecida com a igreja. Tendo demonstrado cabalmente sua soberania em épocas anteriores.


CRISTOLOGIA EM JOEL



Joel,  o  "profeta  do  Espírito  Santo",  não  faz  muitas  referências  diretas  aMessias. Em muitas declarões do Senhor como "Jeová" (YHWH), entretanto, ele fala como o Messias que virá libertar e governar o seu povo na era messiânica: "Sabereis que estou no meio de Israel" (2.27), "derramarei o meu  Espírito  sobre  toda  a  carne"  (2.28),  "congregarei  todas  as  nações  (...) entrarei em juízo contra elas" (3.2), "Levantem-se as nações, e sigam para o vale de Josafá; porque ali me assentarei, para julgar" (3.12) e "Eu expiarei o sangue dos que não foram expiados" (3.21; comparar com Jo 5.22). Apesar de indiretas, essas referências podem ser consideradas messiânicas através das lentes dos textos posteriores.




 CONCLUSÃO





 O aspecto social no qual nasce o livro pode nos auxiliar a tirar uma mensagem para hoje. Israel é dominado pelos persas. É tempo de crise; a vida dos hebreus está ameaçada. Porém a mensagem do profeta é clara: Deus pode transformar, com a colobaração dos fiéis, a crise em vitória definitiva. A linguagem apocalíptica não pode interferir na nossa compreensão do texto. Lembre sempre que quando, na Bíblia, lê algo que fala dos “últimos tempos”, do “fim do mundo” você está lendo uma mensagem de esperança. O “fim do mundo” na bíblia, na linguagem apocalíptica, não é catástrofe, mas é finalidade, ponto de chegada, meta. E o sonho de Deus é a salvação de todos, que exige, porém, participação ativa de cada um.