Tão importante é a verdade da
bondade de Deus para com Israel (isto é, o limpo de coração)2 que a batalha
espiritual dos membros de Israel depende disso. Não é exagero dizer que a
dúvida dessa verdade coloca em risco a salvação do limpo de coração. O salmista
duvidou da verdade fundamental do evangelho lançada no versículo 1. Ele supôs
que o oposto era verdadeiro. A verdade que Deus é bom para com Israel é certa,
mas nem sempre certa na consciência do filho de Deus: "Quanto a mim"
(v. 2).
O efeito dessa dúvida sobre a
vida espiritual do salmista duvidoso foi que a dúvida o colou em extremo perigo
espiritual. Seus pés quase se desviaram, pouco faltou para que seus passos
escorregassem. Houve a ameaça de um desastre espiritual. Se seus pés se
desviassem e seus passos escorregassem, ele seria destruído espiritualmente.
Ele cairia! Pense nos pés de um alpinista se desviando para um declive abrupto,
ou de um soldado escorregando e caindo na batalha. A realidade seria que sua fé
em Deus cedeu e se perdeu. O salmista chegou perto de duvidar da bondade de
Deus para com ele. Isso é incredulidade. Ele estava a ponto de concluir que
tinha purificado seu coração em vão (v. 13). A apostasia seria o próximo passo,
e o fim da apostasia é a destruição espiritual e eterna.
A experiência do salmista é
aquela de todos os santos em algum tempo de suas vidas. Nas tribulações mais
amargas das nossas vidas, duvidamos da bondade de Deus para conosco. Duvidando,
sentimos nos afastar de Deus, que é a nossa salvação. Mas os pés do salmista
não se desviaram e seus passos não escorregaram: "quase", mas não
totalmente, "pouco faltou", mas não inteiramente.
A MORTE
Que situação mais difícil o homem
pode enfrentar do que a morte? É ela o terrível legado que herdamos dos nossos
primeiros pais, que desobedeceram ao Criador no Éden (Gn 2.15-17; 3.19; Rm
5.12). É o pagamento indesejado que recebemos por ter pecado (Rm 6.23). É o fim
para o qual caminhamos a passos largos (Ec 12.1-7). Mais do que isso, é o
inimigo inexorável que vem em nosso encalço para, no inevitável dia do
encontro, nos deixar prostrados (Lc 12.20). Nós, coroa da criação, criados não
para morrer, mas para viver eternamente!
Que é ensinado na igreja de Deus
sobre o modo como o cristão deve comportar-se diante da morte? Conforme o
entender dos mestres dessa igreja, qual deve ser a postura do crente quando um
ente querido seu parte desta vida? Como ele pode ajudar de modo real e
significativo os enlutados? E quando a morte, enfim, o vier chamar? Como deverá
proceder?
As respostas dadas a todas essas
perguntas devem ter como fundamento as palavras das Sagradas Escrituras. É na
Bíblia que obtemos respostas claras e precisas para todas as questões
relacionadas à morte, nosso cruel e último inimigo.
De modo prático, o Livro Sagrado
mostra que, quando perdemos um ente querido, a tristeza e o choro diante de tão
doloroso fato não são censuráveis. Davi, homem de Deus, pranteou amargamente a
morte de seu filho Absalão (2Sm 18.32-33). Marta e Maria foram consumidas de
tristeza pela morte de Lázaro, morte esta que levou o próprio Senhor Jesus,
doador da vida, às lágrimas (Jo 11.33-35). O historiador Lucas nos conta que
quando Estevão morreu apedrejado, homens piedosos o sepultaram e fizeram
“grande pranto sobre ele“ (At 8.2). O mesmo Lucas narra o quanto os crentes de
Jope choraram a morte de Dorcas, irmã amada por todos daquela igreja (At
9.36-39). Inúmeros são os exemplos de homens e mulheres de Deus que choraram
quando viram seus queridos mortos.
O apóstolo Paulo ensina que
quando o falecido é crente, o desespero por sua morte deve ser evitado.
Entretanto, Paulo não ensina que é errado nos entristecermos nessas ocasiões.
Diz que não devemos nos entristecer “como os demais que não têm esperança” (1Ts
4.13). Segundo ele, esse tipo de tristeza tão comum nos incrédulos só se aloja
no coração de um crente quando ele esquece o fato de que os salvos
ressuscitarão um dia. Para Paulo, a amarga tristeza dos incrédulos enlutados
está associada à sua falta de esperança. Logo, segundo ele, os crentes não
devem entristecer-se como eles uma vez que, cientes da ressurreição futura, têm
real esperança.
Por isso, conforme o ensino do
grande apóstolo, a postura do cristão diante da morte de outro crente querido
seu deve ser de tristeza esperançosa, que é fruto da certeza da ressurreição
futura dos salvos. É fato indiscutível que, de posse das verdades acerca da
ressurreição dos santos (1Co 15; 1Ts 4.13-18), qualquer crente pode evitar o
desespero quando a alma de um de seus queridos salvos parte para o céu. E, não
bastasse essa bendita certeza, vem ainda em nosso auxílio nas horas de saudade
a doce lembrança das promessas bíblicas acerca do lar celestial, presente
morada das almas dos santos que partem deste mundo (Lc 16.22; 23.42,43; Fl
1.21-23; 2Tm 4.18)
CONCLUSÃO
O cristão, genuíno membro da
igreja de Deus, deve aprender a se comportar adequadamente diante da morte. O
estilo de vida do crente verdadeiro não é mera representação teatral, que, em
face dos mais profundos sofrimentos da vida, permite tirar a máscara de
santidade e revelar desespero e ódio contra Deus. Ao contrário, a verdade é que
no enfrentar das situações realmente difíceis, nas quais é impossível manter
qualquer grau de hipocrisia ou falsa piedade, a magnitude do caráter cristão
maduro desponta com brilho ainda maior.
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