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3º Lição - A Glória do Ministério Cristão (2 Coríntios – “Eu de muito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas”) / PRIMEIRA PARTE: A acusação de leviandade e a defesa de Paulo



Infelizmente perdemos a oportunidade de iniciar o blog com as duas primeiras lições da revista sobre Coríntios, por termos inaugurado essa página no dia 11. Porém não vamos mais perder tempo. Estaremos agora propondo um comentário a essa terceira lição.


Essa lição aborda a passagem que vai do 12º versículo do capítulo 1 até o término do segundo capítulo. Se lermos com cuidado há complicações para fazer um comentário linear e homogêneo sobre essa passagem, então seria bom, a meu entender trabalharmos com três subtemas para o tema geral: A Glória do Ministério Cristão. Na minha organização ficaria o seguinte: 1. A acusação de leviandade e a defesa de Paulo. / 2. A função da disciplina eclesiástica. / 3. Paulo contra os falsificadores do Evangelho.



A acusação de leviandade e a defesa de Paulo



Quando o Senhor Jesus Cristo apareceu a Ananias, seu discípulo em Damasco, disse claramente a respeito de Paulo não somente que ele era um instrumento escolhido para levar o Seu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel, mas também que lhe mostraria quanto lhe importava sofrer pelo Seu nome (Atos dos Apóstolos 9.15-16). E de fato o apóstolo levou esses ensinamentos por toda a sua vida em sua própria carne, pois como disse a Timóteo: todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos (II Timóteo 3.12).




E como grande estudioso das Sagradas Letras, Paulo era sabedor dessa realidade espiritual, todos quantos se destacaram como líderes do povo de Deus sofreram no mínimo a ingratidão, a calúnia, a inveja, a resistência direta a sua autoridade e o desprezo. Pois Moisés sendo fiel em todos os preceitos da Casa de Deus e da sua Lei, sendo mediador da Antiga Aliança, ao qual o Senhor falava com ele no monte Sinai e lá havia fogo palpável e ardente, e escuridão, e trevas, e tempestade, e quando a congregação de Israel via tudo àquilo, assustada pedia que o Senhor não mais falasse, pois já não suportavam o que lhes era ordenado: Até um animal, se tocar o monte, será apedrejado. Deus mostrava que Moisés era o líder inconteste do povo israelita, pois até mesmo o seu rosto resplandecia (Êxodo 34. 30)



Porém isso não impediu a rebelião de Corá, que era primo de Moisés (cf. Êxodo 6.16-21 e Números 16.1), e que tomou consigo a Datã e a Abirão, dizendo que Moisés não era o único santo da congregação, que toda congregação de Israel era santa por si mesma, e convidou o povo a pegar o incenso e desrespeitar a unção de Arão como sacerdote e de Moisés como guia. E o povo não só se rebelou contra Moisés nessa ocasião, mas antes já tinham dito: Levantemos um capitão e voltemos para o Egito (Números 14.4).



Falei de Moisés porque ele é um caso clássico de como o diabo influi nos incrédulos para que estes tentem destruir a obra de Deus através dos séculos, mas se quisermos ser justos não podemos parar em Moisés antes de citar os casos em que Davi é questionado como líder, por exemplo, como na ocasião da rebelião de Absalão ao qual disse aos emissários secretos que espalhou por todas as tribos de Israel: Quando ouvirdes o som das trombetas, direis: Absalão é rei em Hebrom. Ou quando chegou Davi a Baurim, e lhe saiu ao encontro um homem da família da casa de Saul, cujo nome era Simei, e que gratuitamente lhe ia amaldiçoando e lhe atirava pedras, dizendo: Fora daqui, fora, homem de sangue, homem de Belial, o Senhor te deu, agora, a paga de todo o sangue da casa de Saul, cujo reino usurpaste; o Senhor já o entregou nas mãos de teu filho Absalão; eis-te, agora, na tua desgraça, porque és homem de sangue (II Samuel 16.5-8).



Citando também como os profetas eram desprezados, a exemplo de Jeremias. E falando também do próprio Cristo que não apenas foi desprezado e resistido pelos fariseus, como suportou a traição de Judas que se dizia seu amigo, como foi entregue pelos príncipes do seu povo e ouviu as vozes que diziam Fora com este! Solta-nos Barrabás! (Lucas 23.18)



Paulo por sua vez estava sendo acusado de leviandade, ou seja, que ele era um homem que falava antes de pensar, que era precipitado e inconstante e indigno de confiança. Isto tudo porque ele decidiu mudar o curso de sua viagem. Essa crítica teria evoluído para se dizer que mais do que decisão forte e refletida, faltava a Paulo integridade. Paulo então passa a defender-se dizendo que sempre viveu em santidade (nos melhores manuscritos, segundo Lawrence Richards, encontra-se a palavra integridade) e sinceridade. Dizendo que mantém o testemunho da sua consciência intacto. E apela para compreensão dos coríntios segundo as obras que ele praticou estando com eles.



Paulo então tenta mostrar a razão porque mudou seus planos decidindo encontrar-se com eles primeiro e ainda demorando em retornar para lá afim de não se encontrar com tristeza na frente deles, pois se Paulo os entristecersse, quem havia de alegrá-lo, senão aqueles que estariam entristecidos por ele mesmo? Então o apóstolo no meio de tanta controversa e depois de receber acusações tão fortes quanto descabidas, ensina-nos duas lições muito importantes. Os que estão na obra de Deus não tomam decisão por sua vontade, porém visam à vontade de Deus, que é boa, pura, amável e cheia de misericórdia; e que os lideres na obra de Deus pensam antes nas ovelhas e na restauração delas ao Senhor do que no seu próprio conforto ou orgulho.



Por essa razão Deus influenciou o apóstolo a seguir um caminho diferente daquele que ele mesmo propôs. Paulo acreditou que essa mudança seria de fato a melhor coisa a se fazer. E agora estava mostrando aos seus irmãos coríntios que aquilo que ele fez não foi movido por capricho. Antes o que servem ao Senhor como Arão servia tem os seus polegares direitos das mãos e dos pés consagrados a Deus (Êxodo 29.20), simbolizando claramente que estes não executam a sua própria vontade, mas como servos de Deus são guiados pelo Espírito Santo, porque oramos: venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu (Mateus 6.10), ou como está escrito: Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus (Mateus 7.21), pois Cristo assim disse: Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou (João 6.38). Operando Deus quem lhe impedirá?



Por fim, o apóstolo reconhecendo a vontade dAquele que tem o poder para dizer o amém (II Coríntios 2.20), discorre aos coríntios que ele mesmo também desejava a modificação dos seus planos para não voltar a encontrar-me convosco em tristeza [seja qual for o motivo causador dessa tristeza, não discutiremos essa questão particular para não tomar mais espaço]. Nisso vemos o valor do apostolado de Paulo, que nada difere das boas intenções que Moisés tinha em relação ao povo desobediente e rebelde e das boas intenções de Davi, que não se vingou de Absalão nem de Simei. O verdadeiro servo de Cristo age dessa forma: se deixando gastar pelas almas das ovelhas, ainda que incompreensivelmente amando-os cada vez mais, seja menos amado (II Coríntios 12.15, ARC).












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