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3º Lição - A Glória do Ministério Cristão / SEGUNDA PARTE: A FUNÇÃO DA DISCIPLINA ECLESIÁSTICA


Disciplina Eclesiástica é um termo que designa o exercício da ordem eclesiástica na forma de orientação da conduta correta em relação aos mandamentos bíblicos e aos costumes de cada congregação. É termo vago e ao mesmo tempo muito profundo, no sentido em que gerou inúmeras controvérsias no seio da cristandade e muito mais com o advento da igreja protestante que deu nova roupagem ao termo em vista da teologia reformada. E mesmo hoje se pode dizer que cada igreja tem uma maneira de tratar a disciplina eclesiástica diferente.


Não queremos trazer polêmicas desnecessárias invocando as diferenças entre as igrejas Reformadas e as demais igrejas herdeiras da teologia de Menno Simons e os pentecostais históricos no que diz respeito à disciplina eclesiástica, colocando assim juízo de valor. Mas quero me deter as Escrituras e a função da disciplina, algo que os cristãos genuínos e seguidores da Palavra não poderão contestar.

II Coríntios fala de um homem que pelo seu pecado contristou Paulo e a igreja que estava em Corinto. Historicamente se apontou duas opiniões de quem poderia ter sido esse homem: poderia ser homem que Paulo descreve em sua primeira epístola aos Coríntios (I Coríntios): Geralmente se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem abuse da mulher de seu pai (I Coríntios 5.1) que se arrependeu; poderia ter sido também uma pessoa desconhecida pela qual os opositores de Paulo se utilizaram para causar discórdia entre o apóstolo e a comunidade eclesial de Corinto.

Seja lá quem foi esse homem, o texto bíblico nos ensina várias verdades sobre disciplina em uma igreja, as quais podemos destacar:

1. A disciplina eclesiástica como sendo necessária. Em um mundo dominado pelo advento da psicologia e pedagogia e pelo pós-modernismo, falar em disciplina se tornou tabu, pelo menos no Ocidente, principalmente no Brasil, onde negligenciamos essa virtude. E será que a disciplina é mesmo necessária? Sim. Em que sentido? Primeiro é necessário para produzir arrependimento:

Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos. Além do que tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos: não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para {nosso} proveito, para sermos participantes da sua santidade. (Hebreus 12. 6-10).

Pois, se a disciplina não é para o arrependimento, Paulo não teria perdoado o ofensor. Depois, é necessário para não dá armas aos nossos acusadores, ao pecador é necessário que o discipline mostrando que não lhe é conveniente com o pecado. A grande crítica que se faz aos sacerdotes superiores da igreja católica em relação aos escândalos de pedofilia não é a escolha errada dos sacerdotes sem vocação, mas a indiferença a esses casos e aos possíveis culpados. A punição dos pecadores serve para cortar de forma honesta e transparente os escândalos internos e externos.

2. A disciplina não pode ser feita à revelia do líder da igreja. Paulo mostra que embora considerasse a opinião dos coríntios, escreveu para ter a prova de em tudo lhe obedeciam (II Coríntios 2.9). É necessário agir sob a obediência do líder da igreja local para que não haja lugar para vingança sob a roupagem de disciplina.

3. Disciplina não pode ser confundida, a meu ver, com castigo. Certamente o castigo pode servir à disciplina, mas ao contrário desta àquela não tem sentido próprio. Quero dizer que pode haver castigo e não ter arrependimento. Se todo castigo trouxesse arrependimento as prisões criariam novas criaturas prontas a contribuir positivamente com a sociedade, porém vemos o oposto. Por isso, não prego a retirada do castigo, mas acredito que devemos usar a disciplina como tática para a salvação das almas. Porque quando Paulo usou a disciplina no caso do pecador de I Coríntios, ele explica sua motivação: [que seja] entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor {Jesus} (I Coríntios 5.5).


Um grande perigo que se tem em relação à disciplina é a usarmos como foi usada pelos fariseus ou mesmo pela igreja católica medieval. Não nos enganemos. Foi em nome da disciplina que os fariseus levaram Cristo à morte, foi em nome da disciplina que santos foram assassinados com terríveis torturas durante a Idade Média. Eram em nome do seu zelo que Paulo perseguia os cristãos e os forçava a blasfemarem o nome de Cristo. Disciplina sem amor e sem conhecimento de Deus produz morte. Termino nas excelentes palavras de advertência do comentarista dessa lição (Elienai Cabral):

A igreja não pode deixar de administrar a disciplina aos que cometem pecado, para que na haja contaminação dos demais. Isto é, punição do pecado é inevitável, entretanto, o tratamento com o pecador deve ser feito com atitude corretiva, terapêutica e restauradora, visando proporcionar-lhe, o arrependimento e o recomeço da vida crista. Lamentavelmente, em nome do zelo espiritual, tem-se cometido muitas injustiças, típicas dos fariseus, para criticar e censurar sem misericórdia os faltosos. O objetivo de Paulo, contudo, era levar estes a se arrependerem de seus pecados e à retornarem à plena comunhão com à Igreja de Cristo.


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