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Lições Bíblicas - Jeremias, esperança em tempos de crise - Lição 1º - A Jeremias, o profeta da Esperança - parte 1

Uma introdução aos estudos dos profetas do Antigo Testamento




Esta voz me disse: Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo. Então, entrou em mim o Espírito, quando falava comigo, e me pôs em pé, e ouvi o que me falava. Ele me disse: Filho do homem, eu te envio aos filhos de Israel, às nações rebeldes que se insurgiram contra mim; eles e seus pais prevaricaram contra mim, até precisamente ao dia de hoje. Os filhos são de duro semblante e obstinados de coração; eu te envio a eles, e lhes dirás: Assim diz o SENHOR Deus. (Ezequiel 2.1-4)

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. (Hebreus 1.1-2)


A Lei e os Profetas vigoraram até João; desde esse tempo, vem sendo anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem se esforça por entrar nele. (Lucas 16.16)


1. Como podemos classificar os profetas do Antigo Testamento?


Pode parecer meio cartesiano, mas na hora de estudar os profetas no AT é bom aprendermos classificá-los. E como fazer isso? Podemos fazer de várias formas, como:


a) Profetas escritores e profetas oradores


Os profetas oradores foram aqueles que, embora sejam mencionados na Bíblia e tenham desempenhado um papel crucial na história hebraica, não deixaram nenhum livro escrito. Ex.: Elias e Elizeu, etc.

Por outro lado os profetas tidos como escritores, como a própria palavra diz e nos exime de maiores explicações, foram profetas que deixaram documentos escritos e estes foram incorporados canonicamente. Ex.: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Sofonias, etc.


b) Profetas maiores e profetas menores

Essa divisão obedece ao critério do tamanho do livro escrito pelo (ou a mando do) profeta. Nesse caso os livros dos profetas maiores, são Jeremias, Isaías, Ezequiel e Daniel [geralmente se inclui o livro de Lamentações, embora seja um livro curto, por ser atribuído a Jeremias, um dos profetas maiores]. Já os livros dos profetas menores são: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.


Ao total, quatro profetas maiores (Jeremias com dois livros, então cinco livros) e doze profetas menores (cada um com um livro, então doze livros).

Obs.: Repetindo: o critério é o tamanho do livro. Não confundir tamanho de livro com número de capítulos. Se cometermos esse erro, então colocaríamos Daniel, que se atribui a ele um livro de doze capítulos, dentro dos profetas menores e Oséias, que provavelmente escreveu o livro que leva seu nome com catorze capítulos, dentro dos profetas maiores. O livro de Daniel embora tenha doze é consideravelmente maior do que o de Oséias.

c) Profetas pré-exílio, profetas do exílio e profetas pós-exílio

[Antes de qualquer coisa, o exílio a que me refiro é o babilônico e não o assírio] Minha divisão preferida. Nela podemos traçar melhor um estilo literário, além de que essa divisão respeita muito o conteúdo teológico e histórico dos profetas mencionados. Podemos citar como pré-exílio todos os profetas antes de Jeremias, dando foque especial a Isaías, Joel, Miquéias, Naum Habacuque, Sofonias, Oséias, Amós e Jonas. Do exílio citaríamos Jeremias (embora ele inicie seu ministérios antes do cativeiro), Ezequiel, Daniel e Obadias (há controvérsias sobre a data em que o profeta escreveu seu livro). No pós-exílio temos: Ageu, Zacarias e Malaquias.

d) Profetas de Judá e de Israel

O critério para essa divisão é puramente geográfico. Nisso temos os que profetizaram em Judá: Jeremias, Joel, Miquéias, Naum Habacuque, Sofonias, Ezequiel e Daniel (esses últimos não profetizaram em Judá, mas aos judeus cativos), Ageu, Zacarias e Malaquias, e os que profetizaram em Israel: Oséias, Amós e Jonas.

Obs.: Existem outras formas de divisões, mas eu as omiti para não tomar tempo, usando as mais conhecidas e consequentemente as mais usadas.



2. Uma análise histórica dos profetas do Antigo Testamento



Achados arqueológicos comprovam que o fenômeno da profecia não era exclusividade dos judeus. Placas cuneiformes na Suméria mostraram que profetas e sacerdotes participavam da vida cotidiana dos primeiros povos. No Egito Antigo profetas eram geralmente consultados para prever o futuro e por meio de artes mágicas preverem o que iria suceder posteriormente. Talvez seja nesse ponto que os profetas do Antigo Testamento se distanciem dos seus contemporâneos pagãos.

A adivinhação era algo proibido já na lei mosaica, pois disse Moisés, servo do Senhor: Não comereis coisa alguma com sangue; não agourareis, nem adivinhareis (Levítico 19.26) e: Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro [...] (Deuteronômio 13.10) e qualquer que praticasse adivinhações ou consultasse algum espírito e não ao Deus vivo seria réu de morte. Não é de se estranhar, portanto, que os adivinhadores sejam tidos na Bíblia como enganadores e pessoas com demônio (cf. Jeremias 14.14 e Atos 16.16-18).

O doutor George Adam Smith comenta a diferença do profeta bíblico por pagão: “No uso comum, o nome ‘profeta’ tem degenerado para o sentido de ‘um que prediz o futuro’. É o dever de cada estudante de profecia livrar-se desse sentido. No grego, ‘profeta’ não significa ‘quem fala anteriormente’, mas ‘quem fala por, ou em lugar de outro’. E se referindo mais precisamente ao Antigo Testamento diz: “[...] Sendo participante dos conselhos de Deus, o profeta vem ser portador ou pregador da palavra divina. A predição do futuro é somente uma parte, e muitas vezes uma parte subordinada e acidental, de um ofício cujo a função era declarar o caráter e a vontade de Deus” SMITH, George Adam APUD MCNAIR, S. E. A Bíblia Explicada. Rio de Janeiro: CPAD, 1983, 4º Ed.).

Além dessa verdade que Dr. George A. Smith falou, existe outra que acredito ser também de grande importância para entendermos os profetas do Antigo Testamento: a autonomia de classe desse grupo. É evidente que falar de autonomia de um grupo é sempre complicado, pois teríamos que fazer generalização. Mas o certo é que desde o início Deus levantava homens em Israel para serem Seus porta-vozes e esses não tinham medo de anunciar suas palavras desde aos mais simples e humildes do povo até mesmo a nobres e reis. E de fato os mais conhecidos profetas de Israel profetizaram sentenças contra os poderosos da nação, como por exemplo: Isaías, Elias, Jeremias e João Batista.

Esta aí, para mim, o diferencial mais característico da profecia no Antigo Testamento: a sua não conformidade com os poderosos. Nisso há verdadeiramente uma autonomia desse grupo pessoas especialmente contra as classes dominantes, seja essa classe a nobreza, seja a classe sacerdotal, que muitas vezes dava o abalizamento da situação social (de injustiça) por meio da religião como instrumento de conformidade.

Nesse ponto temos um Amós que diz pelo Senhor: Portanto, visto que pisais o pobre e dele exigis tributo de trigo, não habitareis nas casas de pedras lavradas que tendes edificado; nem bebereis do vinho das vides desejáveis que tendes plantado. Porque sei serem muitas as vossas transgressões e graves os vossos pecados; afligis o justo, tomais suborno e rejeitais os necessitados na porta. Portanto, o que for prudente guardará, então, silêncio, porque é tempo mau. Buscai o bem e não o mal, para que vivais; e, assim, o SENHOR, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como dizeis. (Amós 5.11-14)

Por outro lado Jeremias criticou a classe dos escribas e sacerdotes e até mesmo os falsos profetas dizendo: Como, pois, dizeis: Somos sábios, e a lei do SENHOR está conosco? Pois, com efeito, a falsa pena dos escribas a converteu em mentira (Jeremias 8.8) e também: Pois estão contaminados, tanto o profeta como o sacerdote; até na minha casa achei a sua maldade, diz o SENHOR (Jeremias 23.11)

O profeta Ezequiel a respeito do rei judeu diz: Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, no lugar em que habita o rei que o fez reinar, cujo juramento desprezou e cuja aliança violou, sim, junto dele, no meio da Babilônia será morto (Ezequiel 17.16).



3. Uma análise de características teológicas dos profetas do Antigo Testamento


O que os profetas pregaram depois de consolidada a monarquia hebraica?


• A Aliança Mosaica quebrada


Um dos pontos mais comuns na teologia dos profetas é de que Israel era culpado por quebrar a Aliança com Deus. Pois Jeremias fala: E entregarei os homens que transgrediram a minha aliança (...) na mão dos que procuram a sua morte (...) (Jeremias 34.18-20) e diz Malaquias: Mas vós vos tendes desviado do caminho e, por vossa instrução, tendes feito tropeçar a muitos; violastes a aliança de Levi, diz o SENHOR dos Exércitos (Malaquias 2.8)

Por essa razão os profetas do Antigo Testamento utilizam com frequência a figura do marido traído (o juramento do casamento desfeito) (cf. Ezequiel 16.8-14 e o livro do profeta Oséias) e a de um tribunal aonde o profeta (o promotor) comprova os acordos quebrados unilateralmente (Miquéias 6).



• O ensinamento moral aliado a uma prática sincera da religião

O texto anteriormente citado de Jeremias é sintomático (Jeremias 34). Nele vemos o rei Zedequias voltando atrás em decreto seu que apregoava a liberdade aos escravos judeus. O que parece ser uma discussão travada apenas no campo social ou, mais profundamente, moral, é antes de tudo uma questão religiosa. Um erro muito comum de que estuda profecia no Antigo Testamento é entender o fenômeno profético que antecede o exílio assírio e o babilônico como apenas de cunho social, quando, ao contrário, a questão é necessariamente teológica.

Segundo a Lei (Deuteronômio 15.12-18) o judeu que por dívida se vendesse ao seu conterrâneo, este o aceitaria com a condição de libertá-lo em no máximo depois de seis anos completos de trabalho, sendo que esse escravo teria seus direitos, não poderia ser maltratado e seria considerado não como objeto mais como pessoa. A lei de Moisés era, portanto a lei mais avançada e humana da época em relação à escravidão. Todavia os judeus contemporâneos de Jeremias estavam escravizando os seus irmãos e não lhe davam forro depois do tempo estipulado na Lei. Então o problema era social ou religioso?

Muitos dizem que a Igreja não deve se deixar influenciar por questões puramente sociais, antes devem buscar o “Reino dos Céus”, contudo cabe a pergunta: como posso agradar a Deus se eu permito que meu irmão passe fome na minha presença, como se pode servir a um Deus bondoso e justo e ao mesmo tempo não me indignar com as injustiças sociais do nosso país?

A busca pela justiça social passa impreterivelmente pela prática sincera da religião cristã.



• A luta pela verdadeira fé


Os profetas do Antigo Testamento nunca tiveram tarefas fáceis. Além de profetizar para quem não queria ouvir, tinham que tratar com farsantes que se diziam iguais a eles, mas que não tinham nada de Deus. Desde Elias que enfrentou os profetas de Baal até Jeremias que teve de encarar um Ananias sedento pela glória mundana. O profeta tem o dever de levar os seus ouvintes a obediência a Deus e a não se conformarem com o mundo.

 
• Todos os profetas genuinamente de Deus nos guiaram a Cristo


Temos a impressão que apenas Isaías foi o profeta messiânico, mas o próprio Cristo disse que os profetas do Antigo Testamento testificaram a respeito dele (cf. Lucas 24.27). Para termos uma ideia o Novo Testamento faz mais de 600 citações diretas ou indiretas do Antigo Testamento. Portanto temos uma lição muito importante não a profeta que negue Jesus, pois o apóstolo João falou: Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo (1 João 4.2-3)

Nesse caso a Lei e os profetas foram até Jesus Cristo, e não temos mais profetas que possam acrescentar nada a revelação de Jesus que foi nos dada pelos profetas e apóstolos bíblicos, pois assim Paulo falou: se alguém anunciar outro evangelho, mesmo sendo o anjo, tal pessoa seja anátema (Gálatas 1.8), isto é, maldito.



Hoje Deus ainda deseja falar com os homens, não para projetos financeiros de venda, lucro e ganho puramente materiais dos dons espirituais dentro da casa de Deus, pois de lá Cristo expulsou os cambistas e vendedores dizendo “o zelo da tua casa me consumirá” (João 2.13-17), mas para pregoar em seu nome o ano aceitável do Senhor, as boas-novas e a cura aos quebrantados de coração e a libertação dos cativos e dos algemados espirituais, assim como o dia da vingança do nosso Deus (Isaías 61.1-3)

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