Pesquisa

Sobre a escolha por Jeremias como tema


Como definiríamos a nossa geração? Talvez possamos afirmar que é uma geração extremamente religiosa, mas que poucos servem ao Deus verdadeiro com espírito e verdade, uma geração que prefere um culto “moderno” e falsamente avivado, porém poucos prestam a Deus um culto racional, é ainda uma geração orgulhosa do seu avanço tecnológico e científico e que se gaba das suas riquezas e prosperidade, no entanto moralmente é decaída, por último, uma geração que possui falsas esperanças e procura em vão uma segurança que não a protegerá do dia da Ira Vindoura que está para cair sobre toda Terra, por isso mesmo, desprezam a santa advertência de Deus que quer ninguém se perca, mas que todos sejam salvos.

O curioso é que essa descrição se encaixa perfeitamente com a geração a que profetizou Jeremias, uns quase 600 anos antes de Cristo. É preciso então tentar explicar mais o quanto foi acertado a escolha desse tema para revista do segundo semestre? Eu mesmo sou suspeito em falar porque amo de coração o livro de Jeremias. E de antemão já vou confessando a vocês que desde que eu soube que o novo tema das Lições Bíblicas para esses três meses foi Jeremias, isso não saiu mais da minha cabeça, fiquei ansioso para dar aula em cima desse tema. Mas por que Jeremias me chama tanto a atenção?

Jeremias profetiza contra a falsa esperança de Judá, contra os curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz (Jeremias 6.14). Jeremias tem a preocupação de alerta ao povo judeu que ao menos que eles reneguem os seus pecados e se humilhem aos pés do verdadeiro Deus não haverá salvação, espera-se a paz, e nada há de bom; o tempo da cura, e eis o terror (Jeremias 8.15).

Jeremias me agrada muito porque ele lança um diagnóstico preciso da situação espiritual dos judeus não colocando a culpa simplesmente nos líderes políticos e nos incultos, ou seja, naqueles que poderiam se escusar alegando, ainda que sem razão, que não conheciam com precisão as leis religiosas, ao contrário, a culpa recaí com freqüência aos escribas: Como, pois, dizeis: Somos sábios, e a lei do SENHOR está conosco? Pois, com efeito, a falsa pena dos escribas a converteu em mentira (Jeremias 8.8), aos profetas e aos sacerdotes [Jeremias era de família sacerdotal]: (...) cada um se dá à ganância, e tanto o profeta como o sacerdote usam de falsidade (Jeremias 8.10).

A profecia falsa está no centro do problema espiritual de que passava os judeus contemporâneos de Jeremias:

Portanto, eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu companheiro. Eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que pregam a sua própria palavra e afirmam: Ele disse. Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o SENHOR, e os contam, e com as suas mentiras e leviandades fazem errar o meu povo; pois eu não os enviei, nem lhes dei ordem; e também proveito nenhum trouxeram a este povo, diz o SENHOR.

E hoje não é diferente: Não havendo profecia, o povo se corrompe (...) (Provérbios 29.18)

É claro que fazer uma lição em cima de um livro do Antigo Testamento é sempre algo complexo. Existe em primeiro lugar uma dificuldade de se trabalhar com História Antiga Oriental, visto que mesmo num círculo acadêmico, como numa graduação de História, há poucos especialistas nesse período, principalmente dentro do contexto semita, não é de se estranhar, por exemplo, que as escolas do Rio de Janeiro, conforme tomei conhecimento, não trabalham mais com História Antiga. Ainda por cima, não temos um número de livros de teologia ou de história ou de estudos mesmo do Antigo Testamento comparável com aqueles que tratam sobre o Novo Testamento, embora isso esteja se transformando nos últimos anos.

Por isso que a atitude de se fazer uma lição com base em um tema no Antigo Testamento seja bastante elogiável. E representa, se analisarmos bem, uma tendência no campo das publicações teológicas, isto é, no campo editorial cristão, que repercute por sua vez nas Lições Bíblicas, que desde 2009 tem dado um espaço igual entre publicações com temas em cima do Novo Testamento e do Antigo Testamento, pois das últimas seis Lições, três delas trouxeram temas dentro do Antigo Testamento: Josué (I trimestre/2009), Davi (IV trimestre/2009) e Jeremias (II trimestre/2010).

Talvez ainda tenhamos certa desconfiança em tratar assuntos do Antigo Testamento, provavelmente por acharmos aquilo muito distante de nós, seja cronologicamente, seja culturalmente, e receio de como tratar metodologicamente uma teologia tão vasta e inexplorada como é a teologia do Antigo Testamento. Verdadeiramente não é fácil. Contudo acredito que se verdadeiramente tivermos o compromisso de estudar e buscar o Senhor, as portas da Sua Palavra sempre estarão abertas.

Seria bom se olhássemos e comparássemos os profetas antigos com os ditos profetas modernos, a nossa sociedade com a sociedade de Jeremias, se analisássemos o nosso comportamento, para podermos comparar com a dos santos homens do passado, então veríamos que a Palavra do Senhor é sempre nova, e mais penetrante do que a espada de dois de gumes e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E por mais que essa Santa Palavra revele nossos pecados e a impossibilidade da auto-salvação, cremos que ainda resta a esperança em Deus, se mantivermos firme a nossa confiança em Cristo, pois fiel foi quem nos chamou das trevas para Sua maravilhosa luz.

Comentários