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Lição 4ª - A Oração em o Novo Testamento

A oração de Cristo, dos apóstolos e da Igreja


Estudar a Bíblia dividindo-a em dois Testamentos e tentando explorar mensagens distintas, mesmo que complementares, neles, não é algo novo, tem pelo menos 200 anos. Mas nesses últimos tempos, conforme eu comentei em outras lições, está muito em moda as “teologias” do Novo Testamento e Antigo Testamento que entraram com tudo no mercado editorial. Mas, voltando especificamente ao tema, será que existe um tipo de oração no Antigo Testamento que difere do Novo, e se sim, de que tipo são essas diferenças?

Para início de conversa é preciso dizer que a nossa revista trata o tema “a oração no Novo Testamento” referindo tanto ao Novo Testamento canônico como ao Novo Testamento enquanto pacto feito por Cristo na cruz com relação a todos os crentes, o que envolve, obviamente, a igreja de Cristo na história. Porém, para fins didáticos, prefiro dividir essas duas abordagens.

A Oração no Novo Testamento Canônico

Chamo de Novo Testamento Canônico o período de tempo em que foram escrito os 27 livros do Novo Testamento e de formação daquilo que chamamos de igreja primitiva. Penso que é importante que se destaque esse período para se fazer distinção entre o Antigo e Novo Pacto, o qual Cristo constituiu.

De certo Cristo não veio desfazer a Lei de Moisés, nem mesmo o ensino dos profetas, antes veio para fazer cumprir tudo aquilo que estava escrito, pois diz: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra (Mateus 5.18). Então Cristo estava tentando mostrar que a Lei deveria entrar no coração das pessoas e não apenas as revestir de uma falsa piedade. A religião que nasce das obras não produz nada mais do que auto-indulgências e falsa devoção, contudo, a religião que nasce na fé genuína em Deus é frutífera, sabe suas limitações e confia no poder de Deus.


Porém mesmo próximo da Lei de Moisés Jesus mostrava que essa lei já estava inadequada e algo novo estava surgindo. Já o tens ouvido; olha para tudo isto; porventura, não o admites? Desde agora te faço ouvir coisas novas e ocultas, que não conhecias (Isaías 48.6).


Não que a lei mosaica fosse ela propriamente má. O problema não está na lei, mas em nós, que não somos capazes de cumprir à lei. Pois com muita propriedade o apóstolo Paulo diz:



Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom. Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno. Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado (Romanos 7.12-14).

  

Por essa razão, Jesus não questionava o fato dos fariseus, representantes máximos do judaísmo, enquanto religião, seguirem a lei, mas questionava-los no uso puramente ritualista e cerimonial da lei, aonde se desprezava o sentido espiritual dos mandamentos, fazendo da religião judaica apenas regras obedecidas mecanicamente, construindo-se uma prática alienante e vazia, em detrimento de uma prática verdadeira de adoração e fé a Deus. Contudo próprio Moisés já entendia a Lei diferente :

Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor teu Deus pede de ti, senão que temas o Senhor teu Deus, que andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma [...] (Deuteronômio 10.12).

Então cheguemos ao Sermão da Montanha, aonde Cristo, para muito estudiosos lança a Constituição do seu Reino, e que faz nitidamente um contraponto entre aquilo que foi ensinado pelos “antigos” e o que agora ele, o edificador da casa espiritual, que somos nós, nos ensina sobre tudo aquilo que agrada a Deus. Verdadeiramente Cristo lança um ataque frontal aos ensinos dos líderes espirituais da sua época, denunciando toda a hipocrisia dos fariseus.

No capítulo 6 de Mateus, Cristo desmonta concepções equivocadas que eram valiosas para os fariseus em relação à alguns temas, dentre esses temas se encontram o dar esmolas, o jejum e a oração. Fiquemos com o que Jesus falou a respeito da oração, nosso tema de estudo:


E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos (Mateus 4.5-7).

O que Cristo nos recomenda é um relacionamento com Deus  longe dos formalismos, um relacionamento pessoal e estreito. A oração nos possibilita isso. Quando nós oramos, ainda que acompanhados, é como se só existisse Deus e o que ora, ninguém mais, uma comunhão perfeita.


Mas a religião é altamente ineficaz para produzir qualquer tipo de modificação interior, servindo em alguns casos, quando concebida erroneamente, apenas para dar disfarces aos praticantes. E muitos falsos religiosos acreditam mesmo que estão enganando a Deus, no entanto, o máximo que eles conseguem é se iludirem com as “recompensas” e os elogios do mundo.

  
Por outro lado, como já afirmei em outras oportunidades, temas como esse da lição atual são muito perigosos, porque levam, em alguns casos, as pessoas a, em primeiro caso, ficar comparando-se com outras, dizendo: eu oro mais que fulano, ou, fulano ora mais do que eu, e em outros casos, tenta-se descobrir fórmulas mágicas para que as orações sejam atendidas, dentro de concepções teóricas "profundas".


E é realmente isso que Cristo recrimina. O que importa não é o quanto você ora, nem as palavras que você usa (como o uso repetido de algumas palavras ou a utilização de palavras eloqüentes), mas o propósito da oração. Quando você ora para se mostrar a comunidade sua oração não é dirigida a Deus, é uma oração inútil. E oração sem fé é esquizofrenia.


Muitas vezes no Novo Testamento a oração simples foi atendida, invés da oração sofisticada, se nós pudermos chamar assim. Como na oração do publicano que apenas continha uma frase:



Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! E disse Jesus: Digo-vos que este [o publicano] desceu justificado para sua casa, e não aquele [o fariseu]; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado (Lucas 18.14).

Nesse caso o Novo Testamento traz novidades a respeito da oração no Antigo Testamento. Então, Jesus fala de oração, sobre, pelo menos 4 distintos aspectos da realizada no Antigo Testamento:


  1. Uma oração que mais do que fazer parte da liturgia, seja uma oração que preze pelo relacionamento próximo e pessoal com Deus, que na oração assume o papel de Pai Nosso; 
  2. Uma oração que tenha como argumento a nossa filiação com Deus, que não precisa da repetição de palavras, mas de fé e perseverança, tendo a certeza que Deus nos ouve e vela por nós;
  3. Uma oração que nos faça refletir sobre a nossa prática de fé: perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores (Mateus 6.12)
  4. Uma oração que invoca o nome de Cristo (João 16.23)

Os apóstolos basearam seu ministério na oração. O livro de Atos dos Apóstolos está repleto de orações. Foi por meio de oração que os apóstolos acolheram Matias, pois o autor de Atos diz: E, orando, disseram [os apóstolos]: Tu, Senhor, conhecedor dos corações de todos, mostra qual destes dois tens escolhido [...] (Atos 1.24) e que acontece? E, lançando-lhes sortes, caiu a sorte sobre Matias. E por voto comum foi contado com os onze apóstolos (Atos 1.26).

 Mais na frente vemos os apóstolos orando para os samaritanos recebessem o Espírito Santo: os quais, descendo para lá, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo [...] (Atos 8.15) e: recebiam estes o Espírito Santo (Atos 8.17).

 Os apóstolos tiveram a experiência de orar e serem atendidos. O caso da prisão de Pedro e do milagre que aconteceu com ele é um fantástico argumento em prol da fé e da oração.

Pedro, pois, estava guardado no cárcere; mas havia oração incessante a Deus por parte da igreja a favor dele. [...] Eis, porém, que sobreveio um anjo do Senhor, e uma luz iluminou a prisão; e, tocando ele o lado de Pedro, o despertou, dizendo: Levanta-te depressa! Então, as cadeias caíram-lhe das mãos.
Por isso que o apóstolo Pedro com muita propriedade diz em uma de suas epístolas: Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas [...] (I Pedro 3.12)

Paulo também era um homem de oração. Em praticamente todas as epístolas Paulo diz que está orando por algo ou alguém. Somente para citar alguns exemplos:
[...] fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações, [...] (Filipenses 1.4);

Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, é minha testemunha de como incessantemente faço menção de vós em todas as minhas orações, suplicando que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de visitar-vos (Romanos 1.9-10);

Damos, sempre, graças a Deus por todos vós, mencionando-vos em nossas orações e, sem cessar (I Tessalonicenses 1.2);

Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual (Colossenses 1.9).

Por isso que o apóstolo poderia dizer como aquele que pratica o que ensina: “regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes” (Romanos 12.12). Os apóstolos lograram êxito orando e são exemplos para a igreja atual.

  
O Novo Testamento e a Igreja pós-apostólica

  
Falo de Igreja pós-apostólica não querendo dizer uma igreja que superou a doutrina apostólica e sim apenas a igreja cristã depois do período.

E vemos que todos os grandes nomes da igreja de Cristo, aqueles que tiveram ministérios realmente abençoados.
  
O pastor Claudionior de Andrade escreveu:


Depois da era apostólica, os pais da igreja, além de suas lides teológicas, consagravam-se à oração. Ignácio, Tertuliano, Ambrósio e Agostinho. O bispo de Hipona escreveu acerca de seu ministério de oração e intercessão: “Eis que dizeis: ‘Venha a nós o vosso reino. E Deus grita: Já vou’ Não tendes medo?”

E os reformadores? Martinho Lutero foi um grande paradigma na intercessão em favor da Igreja de Cristo naqueles períodos da Reforma Protestante. Mais tarde chegaram os avivalistas. John Wesley levantava-se de madrugada para falar com o Pai celeste. E o irmão Finney? Era um gigante na oração. Com o Movimento Pentecostal a Igreja de Cristo desfez-se em orações e súplicas por aqueles que, sem ter esperança de ver Deus, caminhavam para o inferno. Em suas anotações pessoais, Daniel Berg e Gunnar Vingren descrevem suas ricas experiências oriundas de uma vida de profunda oração. (ANDRADE, Claudionor. As disciplinas da vida Cristã: como alcançar a verdadeira espiritualidade. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 36, APUD http://www.cpad.com.br/escoladominical/view-subsidios.php?s=38&i=461)

Não devemos, porém, cair no erro dos fariseus, o povo de Deus erra por não conhecer que pode ter comunhão com Deus, seja por meio das Escrituras, seja por meio da oração e da fé, que indissociáveis. A oração não deve ser entendida apenas como algo que tem parte na liturgia, as igrejas devem se voltar à oração para receber o avivamento prometido por Deus.

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