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Lição 2ª - A Mensagem do Reino de Deus



COMENTÁRIO DESTA LIÇÃO FOI ESCRITO PELO NOSSO PROFESSOR DA CLASSE DOS JOVENS, O IRMÃO EZEQUIEL CARVALHO, PROFESSOR DUAS VEZES, O FUTURO ADVOGADO. - Flávio José








A MENSAGEM DO REINO DE DEUS



Sofrimento, sentimento de abandono e falta de sentido: expressões de quando não escutamos a voz de Deus 



O professor de teologia histórica da Universidade de Oxford (Inglaterra), Alister McGrath, é muito sincero ao afirmar que o sofrimento (onde se inclui obviamente o mal e as catástrofes acidentais) “suscita diversos problemas para a fé cristã”.


Recentemente surgiu uma filosofia chamada de “teísmo aberto”. Os adeptos desse pensamento “cansaram” de tentar entender um destino evidente criado por Deus para o mundo. Sendo assim, não acreditam que Deus controla tudo. Afirmam: “Deus não é a causa de tudo, nem é Todo-Poderoso, em última análise, o mundo acontece por vontade humana”. Assim eles tentam “absolver” Deus de tudo aquilo que dá errado no mundo.


Mas o que Deus diz sobre tudo isso? Qual seria a mensagem do Seu Reino? O que Deus responderia para uma mãe que teve sua filha violentamente assassinada, ou até mesmo, covardemente abusada? O que diria a um pai que teve sua família soterrada em um desmoronamento de sua própria casa?


Jó experimentou o silêncio de Deus e para ele isso era um grande absurdo, pois se até mesmo um homem compadece-se do sofrimento do seu próximo, por que Deus não poderia ao menos lhe responder?


E agora derrama-se em mim a minha alma; os dias da aflição se apoderaram de mim. De noite se me traspassam os meus ossos, e os meus nervos não descansam. Pela grandeza do meu mal está desfigurada a minha veste, que, como a gola da minha túnica, me cinge. Lançou-me na lama, e fiquei semelhante ao pó e à cinza.
Clamo a ti, porém, tu não me respondes; estou em pé, porém, para mim não atentas. Tornaste-te cruel contra mim; com a força da tua mão resistes violentamente. Levantas-me sobre o vento, fazes-me cavalgar sobre ele, e derretes-me o ser.
Porque eu sei que me levarás à morte e à casa do ajuntamento determinada a todos os viventes. Porém não estenderá a mão para o túmulo, ainda que eles clamem na sua destruição.
Porventura não chorei sobre aquele que estava aflito, ou não se angustiou a minha alma pelo necessitado? Todavia aguardando eu o bem, então me veio o mal, esperando eu a luz, veio a escuridão (Jó 30.16-26).




A mensagem do Reino de Deus anunciada



Alguém lendo até aqui deve ter se perguntado: “o tema não era ‘a mensagem do Reino de Deus’, como, então, estamos falando de sofrimento”?


Estamos falando de sofrimento porque nenhuma palavra pode combinar tão bem com aquilo que os judeus estavam passando na Palestina no tempo do advento de Jesus Cristo.


Os judeus passaram um pouco mais de 400 anos sendo dominados pelos mais diferentes povos e reinos (pelo Império Persa, pelo império de Alexandre, o Grande, pelo império dos Ptolomeus, pelo império dos sírios selêucidas, que com Antíoco IV, tentaram construir um altar ao deus pagão Júpiter dentro do Templo de Jerusalém, forçaram os judeus a comerem carne de porco, proibiram a observância do sábado e destruíram muitos exemplares das Santas Escrituras hebraicas; e pela dominação romana, que também foi cruel e humilhante).


Fora isso, acrescente o fato de não ter se levantando um grande profeta em Israel nem um líder piedoso que falasse em nome Deus para confortá-los. Houve até profetas, como a profetisa Ana (ver Lucas 2.36) e líderes como Anás e Caifás (sumos sacerdotes), mas ninguém que unisse a nação com um apelo de reavivamento espiritual.


Eis os motivos do sofrimento judaico. O sofrimento não é nenhuma elucubração filosófica. É vivo. Somente quem já sofreu e não foi consolado sabe o que é o abandono, não nas frias páginas de um dicionário, mas em carne viva.


Contudo algo parecia mudar. A esperança hebraica do Messias era algo inabalável e até mesmo os samaritanos sabiam que quando ele se manifestasse responderia todas as perguntas aparentemente sem respostas. Pois a mulher samaritana disse: Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo (João 4.25).  


Quando então João Batista apareceu pregando no deserto da Judéia os judeus acreditavam fortemente na possibilidade de ser ele o Messias. E, estando o povo em expectação, e pensando todos de João, em seus corações, se porventura seria o Cristo (Lucas 3.15), no entanto, João respondeu: E confessou, e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo (João 1.20).


Mas aí os fariseus perguntaram-lhe: Então quê? És tu Elias? E disse: Não sou. És tu profeta? E respondeu: Não. Disseram-lhe, pois: Quem és? Para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes de ti mesmo? Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías (João 1.21-23).


João Batista confessou não ser o Cristo, mas alegou estar preparando o caminho para a chegada dele. Não só dele, mas do seu Reino. E afirmava: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus (Mateus 3.2).


Antes de continuarmos vale aqui uma informação: os judeus esperavam a vinda do Messias, mas não tinham a compreensão do que o Messias seria Deus humanizado, pois teriam de ter uma formação teológica que abrisse espaço para compreensão da Encarnação e da Trindade. Esses dois conceitos inexistem no judaísmo.


O Messias seria um rei terreno, alguém da descendência de Davi que instauraria o reino messiânico, um vislumbre do Reino dos Céus aqui na terra. Por isso, a dificuldade dos judeus em considerar aquele, que para eles era apenas o filho de uma camponesa com um carpinteiro, como o Messias prometido.




Qual era a mensagem do Reino de Deus?



Na lição passada estudamos o projeto do Reino de Deus. O projeto do Reino de Deus é conceder-nos uma cidadania celestial, pois Deus quer que entendamos que o Seu Reino não é deste mundo. Não que Deus não tenha domínio sobre todas as coisas, pelo contrário, como diz o salmista: “para onde fugirei da tua face?” (Salmos 139.7-12), pois do abismo até o mais alto céu, tudo está diante de Deus; mas o Reino de Deus não é deste mundo, ou seja, não possui origem terrena.


E aí está a maior de todas as questões: nós não fomos feitos para viver longe de Deus. Deus criou o paraíso, nós o rejeitamos, desprezamos a Deus e a nós mesmos. Mas aprouve ao Senhor restaurar todas as coisas. Criar um novo mundo sem o pecado nem a morte, sem qualquer sofrimento, onde as lágrimas não existem mais.


E Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas (...) (Apocalipse 21.4-5).


Certa vez os fariseus questionaram a Jesus sobre o tempo em que haveria de se manifestar o Reino de Deus. Até que ponto a falta de fé pode limitar a nossa visão! Eles esperavam o Reino dos Céus com um limite geográfico. Não sabiam que era Deus o que falava com eles.


Fico imaginando o que Cristo deve ter pensado ao ouvir aquilo. Porém, Jesus não se zangou, nem deu uma resposta atravessada, mas como o Pai da misericórdia e Deus de toda consolação (II Coríntios 1.3), ele respondeu: o Reino de Deus está entre vós (Lucas 17.20).


O Reino de Deus não tem limites. Não está preso dentro da Igreja, não pertence a uma denominação. A Igreja no máximo conduz ao caminho certo, a porta estreita (Jesus). É a mensageira do Rei. A palavra hebraica e grega para reino, ao contrário da usada no português (que tem origem no latim), permite essa interpretação: um reino sem limites.


Paradoxalmente, contudo, o Reino sem limites de Deus pode ser algo vivido particularmente, como uma experiência individual. O homem carnal não pode herdar o Reino de Deus, pois está escrito: a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus (I Coríntios 15.50). E Cristo explicar o porquê: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito (João 3.5-6).


Somente aquele que é nascido de Deus em fé, pode entender isso. Somente pela fé Abraão sacrificaria Isaque, somente pela fé Moisés rejeitaria ser o futuro Faraó para morar com seus irmãos hebreus na escravidão, somente pela fé ele tocaria o Mar Vermelho esperando que ele se abrisse para o povo caminhar a pés enxutos, somente pela fé Davi enfrentaria um gigante sem nenhuma armadura, somente pela fé os justos enfrentariam escárnios, açoites, prisões e mortes violentas por uma pátria que nunca viram.


Sem fé nada faz sentido. Mas o Reino de Deus é representado na cruz do Calvário. Como diz o hino: “Pela via dolorosa a sofrer terrível dor como ovelha veio a Cristo, Rei, Senhor. Quanto amor Jesus mostrou morrendo ali, por ti e por mim. Pela via dolorosa ao calvário... Segue enfim”.  Porque não é feito do que é aparente, mas daquilo que se revela superior.



Todo sofrimento precisa respeitado e curado. Jesus mostrou compaixão dos homens, porque viu ovelhas desgarradas, como que sem pastor (Mateus 9.36) e falou aquilo que penso ser a mensagem do Reino: Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei (Mateus 11.28).


Precisamos anunciar essa verdade. Deus não se esquece de nenhum dos seus filhos. Nenhuma injustiça será esquecida, nenhuma lágrima cairá em vão. Pois o que está escrito em Naum? O SENHOR é tardio em irar-se, mas grande em poder, e ao culpado não tem por inocente; o SENHOR tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés. O SENHOR é bom, ele serve de fortaleza no dia da angústia, e conhece os que confiam nele (Naum 1.3-7).


O profeta Isaías, sendo porta-voz do Senhor, também diz: Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti. Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei; os teus muros estão continuamente diante de mim (Isaías 49.15-16).


A Igreja tem uma missão muito grandiosa. Pelo poder do Espírito Santo precisa não se conformar com esse mundo, mas sempre tentar renová-lo (Romanos 12.2). Lutar contra toda injustiça e perversidade, que são obras do diabo, e o mais importante: apontar para a cruz de Cristo. Não é missão da Igreja encontrar todas as respostas, pois todas as respostas serão dadas por Ele naquele grande dia, é missão da Igreja dizer como Paulo:


Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada (Romanos 8.18)   










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