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Lição 8ª - A Oração Sacerdotal de Jesus Cristo - PARTE 1

A Oração Sacerdotal de Cristo


Jesus está prestes a morrer. O evangelista João relata-nos o último sermão de Cristo aos seus discípulos, o Sermão da Última Ceia, narrado do capítulo 13 ao 16 (de João). Eis que de maneira quase instantânea, João interrompe a descrição do sermão e expõe aquela que será a maior oração do Novo Testamento. Um relato importante sobre os anseios íntimos de Cristo em relação a Ele mesmo e todos os seus filhos. É a respeito dessa oração que traçarei agora um breve comentário.


Para fins didáticos me utilizarei da organização da Bíblia Nova Versão Internacional (NVI), organização essa também advogada pelas Lições Bíblicas (IV Trimestre, 2010, versão “Mestre”, p.56), a saber: I. Jesus ora por si mesmo (João 17.1-5); II. Jesus ora por seus discípulos (João 17.6-19); Jesus ora por todos os crentes (João 17.20-26).



I.                   Jesus ora por si mesmo


Alguns termos e expressões são muito comuns nos livros escritos por João. A oração de Cristo começa dizendo:


Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti (...) (João 17.1).


A palavra Pai, que também inicia a oração do “Pai Nosso” em Mateus, é repetida em João 122 vezes (Bíblia de Estudo NVI, Editora Vida, p. 1827).


Jesus sabia exatamente que a hora era chegada. A inveja das autoridades judaicas e o ódio que o mundo tinha dele, fariam com que levassem Cristo ao madeiro. Porém a realidade total, a verdade pura, não era essa.


Pedro após a cura de um paralítico, em Atos diz:  


E agora, irmãos, eu sei que o que fizeste por ignorância, como também as vossas autoridades; mas Deus assim cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas (...) (Atos 3.17-18, negrito não presente no original).

Jesus também disse:


Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai. (João 17-18, negrito não presente no original).


Jesus não seria assassinado, mas se deixaria morrer, mesmo que essa morte lhe causasse muito sofrimento, por que Ele tinha um propósito. E esse propósito pode ser resumido em dois termos também muito usados por João: glorificação e amor.


Glorificar aqui não pode ser entendido no uso do termo pelos gregos contemporâneos do NT, os gregos usavam o termo doxa para descrever a opinião das pessoas sobre um determinado indivíduo, com base em atos ou realizações dele, isto é, a fama. Mas assim como Paulo faz, João estabelece relação entre a glória de Cristo com a glória da revelação do AT, então o termo glória está mais próximo do hebraico kabod. (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. RJ: CPAD, 2008. p.241)


Embora, a Bíblia NVI intitule essa primeira parte com Jesus ora por si mesmo, na verdade Cristo estava orando pela glorificação sua e do Pai.  A cruz era o sinônimo da ignomínia, não havia doxa na crucificação, mas Jesus veio ao mundo para revelar kabod da divindade, o shekiná (a presença da misericordiosa da glória de Deus). A glória do Tabernáculo se repete: a presença de Deus e o sacrifício salvífico.


A glória de Deus não é algo mundano, não advém do orgulho ou da prepotência, mas é humilde e puro. A cruz não é um espetáculo vazio, é antes uma demonstração de como o poder de Deus foi usado para a salvação. Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3.16, negrito não presente no original),


A glória de Deus foi revelada cabalmente na vida de Cristo e no seu sacrifício, por essa razão a cruz para Cristo foi a glorificação perfeita de Deus e dele próprio, pois revelou a essência de Deus. Deus é amor (I João 4.8). E essa glória provém não somente do fato do sacrifício de Jesus, mas do resultado causado por esse sacrifício de Deus. Nessa hora nos calamos e cedemos às palavras divinamente inspiradas de Paulo:

Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós.
Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro.
Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.
Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Romanos 8.31-39)

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