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Lição 11ª - O Primeiro Concílio da Igreja de Cristo - PARTE 2


II.                   ARGUMENTO DOS CRISTÃOS JUDAIZANTES


Ao querermos reconstruir o pensamento dos cristãos judaizantes esbarramos de imediato no fato de que não temos nada escrito por essas pessoas. Esse é um problema apenas de início, pois confiamos inteiramente nas outras fontes que possuímos que são na sua maioria as epístolas do apóstolo São Paulo. Então por meio do que o apóstolo nos revelou é que vou tentar esboçar os seus argumentos.


O cristianismo nasce como uma seita (min) do judaísmo, como descreve o doutor Lawrence Richards (Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento, CPAD, 4ª ed., p. 271) ao observar que as próprias autoridades judaicas e romanas viam assim, do contrário o sumo sacerdote Ananias não teria nenhuma autoridade para comissionar Paulo a prender em Damasco aqueles que professavam os ensinos de Jesus. Até porque no judaísmo Cristo até hoje é considerado um rabino, mal interpretado (Ibidem, p. 11).


Obviamente existem vários tipos e formas de se entender Jesus dentro do judaísmo, assim como existe hoje, se os ditos cristãos judaizantes acreditavam ou não na divindade de Jesus – pois é difícil que em pouco tempo os judeus praticantes acreditassem na Trindade – isso para nós é irrelevante por hora.


O que nos interessa é entendermos que para eles:


Se as pessoas não se circuncidassem conforme o mandamento de Moisés, não poderiam se salvar (Atos 15.1)


A salvação estava condicionada a aceitação do judaísmo, como se a Lei fosse a intermediária entre os homens e Deus. Talvez esteja aí, como imaginou o professor F.E. Peters (Os monoteístas: judeus, cristãos e muçulmanos. Volume 1. Editora Contexto, p. 102) a causa da separação dos judeus e cristãos, o fato de que para os judeus era inadmissível a participação dos gentios sem terem eles aceito os preceitos da Lei de Moisés.



Também existia uma questão política, com a conversão dos gentios havia o receio por parte dos judaizantes de perder cargos e posições eclesiásticas. No último incidente entre os judeus de língua hebraica (aramaica, no caso) e os helenistas, o diaconato foi dado para estes em detrimento daqueles, existia o perigo da perca de espaço.




III.                ARGUMENTOS DE PAULO


Paulo nunca negou o fato de ser judeu, nem jamais abandonou ou desprezou o seu povo, ao contrário, mas se opôs frontalmente aos cristãos judaizantes. Os seus argumentos estão presentes em praticamente todos os seus escritos, porém mais nitidamente nas epístolas aos Gálatas e aos Romanos. Os argumentos paulinos apresentados a seguir possuem base em Romanos.



1.      Para Deus não há acepção de pessoas (Romanos 2.11), porque todos pecaram (Romanos 3.23). Se todos pecaram todos estão debaixo do juízo de Deus (Romanos 2.12).


2.      Deus quando julga e considera todos culpados não comete injustiça nem contra os gentios nem contra os judeus:

a.       Não tem desculpa aqueles que alegam não ter recebido a lei de Moisés (Romanos 1.19-20, 32)

b.      Não há vantagem para aqueles que têm a circuncisão, mas são obstinados e rebeldes a voz de Deus (Romanos 2.25-29; 3.1-8)


3.      Usando o caso de Abraão, Paulo questiona se Abraão alcançou as promessas pelas obras, se foi por elas que ele foi justificado. Foi justificado Abraão por ser circunciso? De modo nenhum, sendo incircunciso foi justificado pela fé sem lei, por meio da graça divina, pois mesmo Abraão não merecia o favor de Deus, mas pela fé obteve a promessa sendo não apenas pai do Israel humano, mas pai pela fé daqueles que por ela alcançaram de Deus a salvação (Romanos 4.9-18).


4.      Paulo, continuando, utilizando-se do exemplo Adão pela perspectiva da qual os teólogos chamam de Pecado Original, mostra que por um só ato de ofensa o pecado entrou no mundo e contaminou toda a humanidade (Romanos 5.12), Cristo, por sua vez também por um só ato trouxe salvação a toda humanidade, ou melhor, concedeu o direito de salvação a todo homem que crê e é salvo pela fé (Romanos 5.18-21).


5.      Paulo relaciona agora os dois lados, como fica para os que são da fé o judaísmo? A analogia do casamento é uma das mais fortes ilustrações sobre esse assunto. Quando uma mulher contrai um matrimônio ela não pode envolver-se amorosamente com nenhum outro homem, no entanto se o seu primeiro marido falece, ela encontra-se desimpedida para casar-se novamente, somente nessa situação, do contrário seria considerada adúltera. Todas as pessoas então que desejam alcançar graça de Deus por meio de Jesus, obrigatoriamente necessitam está desobrigados da Lei de Moisés, senão estariam participando de dois pactos, o que é realmente impossível (Romanos 7.1-6)


6.      Paulo então explica que não é necessário que voltemos a Lei para sermos salvos. É exatamente o oposto, até mesmo os judeus necessitam abandonar a letra da Lei e caminhar para Cristo, visto que a Lei mesmo sendo boa (Romanos 7.14) é ineficaz para nos libertar, sejamos nós judeus ou gentios, do poder do pecado que opera em nossos corpos mortais (Romanos 7.15-24). Somente a Graça de Deus manifesta em Cristo pode criar em mim uma segunda natureza (a espiritual) que pode guerrear em igualdade com a minha primeira natureza (a carnal) (Romanos 7.25) e me dar esperança de salvação.


7.      Por isso Paulo considera que não somos mais devedores à carne, pois o caminho da carne é morte, mas somos devedores do Espírito que nos dá vida (Romanos 8.12-13) e esse mesmo Espírito testifica com o nosso espírito de que somos filhos de Deus. Ainda não somos o que haveremos de ser, mas a glória de Deus se manifestou em vasos de barro (II Coríntios 4.7,18), isto é, na nossa fraqueza, nós que antes éramos estranhos as promessas e alienados da Aliança, agora fomos como enxertados na videira que é Cristo (Romanos 11.17), agora Deus dos dois povos um.


Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão feita pela mão dos homens; que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.
Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.
E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto; porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito (Efésios 2.11-18).







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