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Lição 10ª - Assembleia de Deus – 100 Anos de Pentecostes - 3ª PARTE


O início das Assembleias de Deus no Brasil



Belém - Pará


Daniel Berg e Gunnar Vingren decidiram pegar um navio em Nova Iorque e viajar ao Brasil, mas como foi dito antes eles não tinham dinheiro. Nenhum dos dois eram ricos, Vingren era filho de um jardineiro e Berg era um simples ferreiro. Eram tão pobres que eles necessitavam para viagem, na parte mais humilde do navio, de apenas 45 dólares cada um, mas eles não tinham 90 dólares! Contudo, Deus havia dito a Vingren: “nada vos faltará” e assim creram contra o impossível.


Passando os dois por certa rua em Nova Iorque, Gunnar Vingren encontrou um conhecido seu que tinha um envelope para lhe dar. Disse esse homem que iria mandar pelos correios, mas como surpreendentemente o estava vendo na sua frente poderia entregar pessoalmente a ele. No envelope estava a quantia de U$ 90, nem mais nem menos do que eles iam precisar. Estavam Berg e Vingren agora totalmente convencidos que era realmente o Senhor que desejava que eles fossem para América do Sul.


Com isso embarcaram no navio Clement na terceira classe. Sem nem ter o que comer, tiveram os dois, em caminho ao Brasil, experiências marcantes com Deus. Não deixaram um minuto de evangelizar aos tripulantes e conseguiram até levar um dos passageiros a se converter.


Chegaram ao Brasil em novembro de 1910. Ao desembarcarem não podiam contemplar nada mais desanimador: um lugar inóspito, ainda que capital e principal cidade do Pará, mas o que era Belém a mais de cem anos atrás? Evidentemente alguém pode dizer “Belém estava no apogeu do ‘ciclo da borracha’ nessa época” e não estará mentindo. No entanto, a riqueza não era equitativamente dividida. O latifúndio no Pará era e ainda é algo alarmante. A população humilde de todos estados brasileiros sofre. E cem anos atrás sofria ainda mais.


O Evangelho era escasso – ainda hoje mais de 2.000.000 pessoas seguem todo final de ano (outubro) o Círio de Nazaré, em homenagem a Maria – havia muito misticismo, o povo era extremamente pobre e sem muita instrução escolar e cultural, um forte calor, doenças tropicais... Se o Rio de Janeiro, capital do Brasil na época, não era bem visto pelos estrangeiros, imagine a Região Norte do país – preterida pelos governantes da época, a não ser pelo valor comercial da borracha – na visão de homens que tinham conhecido os confortos dos EUA e da Europa.


Mas eles não desanimaram, sabiam que havia muito trabalho a fazer e confiavam na mesma forma que Paulo: Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (...) (Romanos 1.16).


Conforme tinha sido informados no navio por pessoas amigas, procuraram um hotel baratíssimo para se hospedarem. Lá no hotel souberam de um pastor metodista (Justus Nelson) – igreja muito popular nos Estados Unidos – e no dia seguinte foram procurá-lo. Como Gunnar Vingren era um pastor batista, o pastor Justus o levou até uma igreja batista que tinha como pastor Raimundo Nobre.


O pastor Raimundo permitiu que eles morassem dentro da igreja que ele pastoreava. Dias se passaram até que o primo do pastor Raimundo, Adriano Nobre, que era também pastor, no entanto, da igreja Presbiteriana, foi visitá-lo. Nesse momento teve contanto com os dois missionários. Era Deus novamente atuando. Adriano Nobre sabia falar inglês e convidou Daniel Berg e Vingren para morarem com ele nas ilhas.


Passado algum tempo com Adriano Nobre, os amigos missionários voltaram à Belém para congregarem na igreja Batista. Nessa época Vingren já sabia falar português e Berg já havia encontrado emprego. Passado o primeiro período de turbulência, uma batalha iniciava-se: a ministração do Evangelho conforme uma “nova” doutrina. 


Antes de qualquer alma se converter pela pregação dos dois, uma irmã recebeu o batismo com Espírito Santo. Seu nome era Celina Albuquerque. Sobre ela Emílio Conde assim descreve: Numa quinta-feira, à uma hora da manhã de dois de junho de 1911, na Rua Siqueira Mendes, 67, na cidade de Belém, Celina de Albuquerque, enquanto orava, foi batizada com o Espírito Santo.


Celina de Albuquerque é a primeira mulher brasileira, registrada historicamente, a receber o batismo com Espírito segundo os ensinamentos pentecostais. Nesse sentido a Assembleia de Deus pode ser considerada a pioneira no pentecostalismo brasileiro. Seria o momento propício para se debater a “nova” doutrina, mas a igreja batista brasileira, diferente, da batista americana, não entendeu assim.


Os ânimos se exaltaram. O debate não foi um debate foi uma discussão, no pior sentido do termo. Celina de Albuquerque foi proibida de ensinar na Escola Dominical na sala em que era professora. Numa reunião convocada por Raimundo Nobre, o mesmo que os havia recebido anteriormente, ele assumindo a direção da reunião, pediu para que todos aqueles que concordassem com a doutrina pentecostal se levantassem, a maioria, segundo Emílio Conde se levantou, e Raimundo Nobre os excomungou da igreja. Esses irmãos mesmo discordando e recitando Atos 2, aceitaram a decisão.


Os irmãos que confessaram acreditar na doutrina pentecostal e que foram sumariamente excomungados, são esses listados abaixo:


Celina de Albuquerque
Henrique de Albuquerque (marido de Celina)
Maria Nazaré
José Plácido
Piedade Costa (esposa de Plácido)
Prazeres Costa (filha de Plácido)
Manoel Rodrigues
Jerusa Rodrigues (esposa de Manoel)
Emília Dias
Manoel Dias
João Domingues
Joaquim Silva
Benvindo Silva
Teresa Silva (esposa de Benvindo)
Isabel Silva (filha de Benvindo)
José de Carvalho
Maria de Carvalho (esposa de José)
Mendes Garcia



Citei essas pessoas nominalmente porque esses foram os primeiros membros daquilo que seria posteriormente chamado de Igreja Evangélica Assembléia de Deus. Lembremos, contudo, que antes de existir um templo os cultos sob a direção de Berg e Vingren realizam-se na casa de Celina [o primeiro templo data de 1914] [o pastor era Vingren e Berg era o evangelista] e antes da Assembleia de Deus receber esse nome ela foi chamada durante sete anos, em conformidade com o Movimento Petencostal norte-americano, de Missão da Fé Apostólica. Nome bem sugestivo.


As igrejas históricas não gostaram nada dessa novidade, assim como em parte ocorreu nos EUA. Aqui, contudo, os repórteres não foram tão ofensivos como lá e teve um até que chegou, segundo Emílio Conde, a dizer: “Nunca vi uma reunião, tão cheia de fé, fervor, sinceridade e alegria entre os crentes”.


Com pouco tempo a nova igreja começou a crescer seguindo o zelo missionário dos seus fundadores. Em 1913, Gunnar Vingren já havia consagrado um novo pastor, o primeiro pastor brasileiro, trata-se do pastor Absalão Pinto. Depois desse ainda foram consagrados: Isidoro Filho, Crispiano de Melo, Pedro Trajano e Adriano Nobre, pastores junto com Gunnar Vingren.




O início das Assembleias de Deus em Pernambuco





Pernambuco foi o estado onde surgiu a primeira compilação da Harpa Cristã, com o pastor Adriano Nobre, com tiragem inicial de 1000 cópias, ela foi desde início usada em todo o Brasil. O primeiro círculo de oração, como conhecemos hoje, também nasceu em Pernambuco, com a irmã Albertina, em Casa Amarela.


O primeiro estado brasileiro depois do Pará a receber o pentecostalismo (enquanto doutrina) foi o Ceará, e pelo Evangelho pregado por uma irmã, a Maria Nazaré, citada acima como uma das excomungadas (da igreja Batista de Belém) e fundadoras da Assembleia de Deus.


A irmã Maria Nazaré foi visitar seus parentes e anunciou o que havia ocorrido no Pará, Eles não acreditaram na doutrina, mas ela conseguiu convencer uma igreja Presbiteriana da doutrina pentecostal e fez com essa igreja  se tornasse uma Assembleia de Deus, isso em 1914.


O nascimento da Assembleia de Deus em Pernambuco é meio controverso. Pernambuco recebeu um missionário designado especialmente para esse estado, o pastor Adriano Nobre. Esse evangelizou algumas pessoas, realizou alguns cultos e batizou o irmão Francisco Ramos e a irmã “Lulu” no rio Capibaribe. A irmã Lulu teria sido a primeira batizada com Espírito Santo em Pernambuco.


Mas seu trabalho parou aí. O pastor voltou à Belém antes mesmo de ter passado dois anos no estado. Os fundadores “de fato” das Assembleias de Deus foram o missionário sueco Joel Carlson e sua esposa.


Foi Joel Carlson que celebrou a primeira Santa Ceia no estado, que comprou o primeiro lugar para se fazer uma sede da Assembleia de Deus em Pernambuco e foi ele junto com sua esposa que fez a primeira intuição de assistência social vinculada à igreja no Brasil.


No princípio ele teve vários desgostos, o povo era menos propicio a doutrina pentecostal do que os outros estados do Nordeste, inclusive Joel Carlson pensou em abandonar à denominação em Pernambuco e ir residir no Rio Grande do Norte, como fez o pastor Adriano Nobre. As igrejas tradicionais aqui de Pernambuco também lhe impunham forte resistência. Mas com o tempo a igreja cresceu. Em 1942 o pastor Carlson batizava 187 novos convertidos nas águas em apenas um dia (23 de agosto).

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