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Sobre a escolha do tema: A MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA: Porque o Reino de Deus está entre vós



O que significa dizer que a igreja possui uma missão integral?


Podemos notar que no percurso da história que muitas vezes a Igreja passou por “crises de identidade”. Qual o papel da Igreja, sua missão? Qual deve ser sua relação com a sociedade secular, com as outras religiões, com o governo civil?


Por não saberem resolver esse impasse, por não compreender a missão genuína da Igreja, vários lideres eclesiásticos com o passar do tempo conduziram à Igreja a graves erros. Podemos ter certeza disso quando observamos infelizmente o papel de destaque da Igreja no cesaropapismo durante o Império Bizantino, as Cruzadas, a Questão das Investiduras e o apoio à colonização das Américas. A Igreja nem sempre teve uma relação honesta com a política.



Nem sempre mantivemos as portas do diálogo abertas, aceitando os nossos erros humildemente. Pois se assim fosse não precisaria ter a Reforma Protestante, nem a Teologia da Libertação. Se tivéssemos colocado a mente não nas coisas terrenas e passageiras, mas no tesouro celestial, não precisaria existir o Movimento Monástico, nem a criação das Ordens medicantes, mas algumas vezes cambaleamos dentro da nossa própria ambição.


Ainda agora não sabemos reagir à filosofia relativista, não conseguimos fazer respeitada a nossa fé dentro das mais conceituadas universidades. E quando conseguimos finalmente nos fazer ouvidos, apostatamos da fé. Essa experiência traumática fez muitos desistirem até mesmo de tentar reverter o jogo. Então deixamos que muitos acreditassem que o nós cremos é irracional. Desde o surgimento da ciência moderna a nossa relação com o mundo acadêmico não foi a mesma. E daí aguardamos que as pedras clamem (Lucas 19.40). Mas ai da gente se elas clamarem.


Não quero com o que falei acima maldizer a Igreja de Cristo. Longe de mim, falar mal de Sua noiva, a casa de Deus, coluna e baluarte da verdade (I Timóteo 3.15). Porém quando historicamente alguns líderes eclesiásticos optaram por escolher apenas daquilo que era a metade da ordenança, uma parte, invés do todo, trouxeram escândalos e prestaram um desserviço à embaixada do Reino de Deus na terra, que é a Igreja.



Fazemos apenas a metade quando nos reconhecemos enquanto instituição, mas não enquanto instituição do Reino de Deus. Quando evangelizamos o céu e esquecemos que as pessoas sofrem por uma variedade de circunstâncias que precisam ser revolvidas imediatamente porque todo o sofrimento é urgente; a fome é urgente, a falta de roupa, moradia e de emprego são urgentes.


No entanto, fazemos a metade também quando esquecemos o céu e focamos nossas esperanças todas no mundo, como se a salvação limitasse-se somente para essa vida. Pois, se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens (I Coríntios 15.19).


Fazemos ainda a metade quando queremos evangelizar, mas não transformar a nossa cultura, para que todos experimentem a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Romanos 12.2). O cristianismo não é meramente uma religião, seria muito medíocre que pesássemos assim. Religiões possuem um poder de alcance muito limitado. Mas preste atenção naquilo que Charles Colson e Nancy Pearson falam:


O cristianismo genuíno é mais do que relacionamento com Jesus, tanto quanto se expressa em piedade pessoal, frequência à igreja, estudo da Bíblia e obras de caridade. É mais do que discipulado, mais do que acreditar em um sistema de doutrinas sobre Deus. O cristianismo genuíno é uma maneira de ver e compreender toda a realidade. É uma cosmovisão, uma visão de mundo. [...] O Cristianismo não pode ser limitado a apenas um componente em nossas vidas, uma mera prática religiosa, ou observância, ou ainda a uma experiência de salvação. Somos compelidos a ver o Cristianismo como a verdade abrangente, a raiz de tudo o mais. Essa é a realidade definitiva e final (COLSON, Charles e PEARCEY, Nancy. E agora, como viveremos? Rio de Janeiro, CPAD, 2000, pp. 33-34)  


E como fazer com que a Igreja cumpra a sua missão de forma integral? Entendendo qual é o sentido dela enquanto embaixadora do Reino de Deus. Pois quando ela cumpriu a sua missão à risca obteve grandes frutos, seja alimentando os famintos, seja libertando os oprimidos do diabo pelo poder do Evangelho.


É sobre tudo isso que falamos até aqui e muito mais que a nossa  revista (Lições Bíblicas) irá falar nessas próximas 13 semanas: A Missão Integral da Igreja: Porque o Reino de Deus está entre vós.


Confesso a vocês que não ficava ansioso por uma revista das Lições Bíblicas desde aquela sobre Jeremias, no segundo trimestre de 2010. Essa lição, do conjunto de Revistas que vem tratando de eclesiologia e pneumatologia em comemoração ao ano do Centenário, é a que eu mais gostei sobre esses temas. Tratar do Reino de Deus é positivo tanto do lado teórico da teologia como do lado prático da fé. Mas o que é o Reino de Deus?


Quando Jesus estava prestes a ser crucificado no meio de todo escárnio e pressão dos fariseus, Pilatos, com o desejo de entender o caso de Cristo, questiona-o sobre a acusação que lhe fazem de querer-se fazer rei dos judeus. Daí a pergunta “és rei dos judeus?”.


Jesus tentando fazer Pilatos compreender a diferença entre as perspectivas judaicas e romanas a respeito de tal declaração, pergunta se Pilatos queria saber dele mesmo (perspectiva romana) ou dos fariseus (perspectiva judaica). Pilatos responde dizendo está indiferente a perspectiva judaica, querendo saber apenas se Jesus era um sedicioso (João 18. 33-37).


Jesus então diz que o seu reino não é desse mundo. Quando diz reino a palavra que provavelmente Cristo usa é Malkuth que foi traduzida para palavra grega Basileia, ambas as palavras possuem o mesmo significado: realeza, domínio. Jesus estava querendo dizer a Pilatos que a origem da sua realeza, ou mesmo, o propósito da sua realeza não era terreno. 



James Tissot - da série "The Life of Christ" - Brooklyn Museum of Art - Nova York - EUA


Jesus dizendo isso queria mostrar que não almejava o título de procurador do império romano na Palestina de Pilatos e nem mesmo queria ser o imperador de Roma, pois a sua realeza vinha do céu. E é claro que aquele que habita no céu tem mais poder e majestade do que aquele que habita na terra, assim como tem mais poder o dono de uma mansão em comparação com seu colono, embora que Cristo em sua primeira vinda veio anunciar a aproximação do Reino e não a imposição de soberania deste Reino ao mundo.  


Isso não era uma pergunta de pessoas humildes ou de pessoas incultas nas Sagradas Escrituras, mas até os fariseus interrogavam Jesus sobre quando viria o Reino de Deus. Porém no texto bíblico Reino não está associado à geografia, isto é, territórios delimitados, mas à influência.


O que o profeta estava pregando era o tempo das transformações, é a chegada do Reino de Deus, que muda o que é antigo em novo, que transforma água em vinho, criatura velha em nova criatura, pois em Cristo as coisas velhas já se passaram e eis que tudo se fez novo.


Porque disse o profeta Isaías: “Já o tens ouvido; olha para tudo isto; porventura, não o admites? Desde agora te faço ouvir coisas novas e ocultas, que não conhecias.” (Isaías 48.6) e mais adiante o mesmo profeta diz: “Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas”. (Isaías 65.17). 


Mas se existe o novo reino que o homem não conhecia por ainda não ter sido revelado, a quem Cristo confiou para serem os embaixadores? O evangelista Mateus nos responde: Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro, Simão, por sobrenome Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Zelote, e Judas Iscariotes, que foi quem o traiu. A estes doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções: Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel; e, à medida que seguirdes, pregai que está próximo o reino dos céus. (Mateus 10.2-7).


Contudo se há o reino há uma constituição a qual esse reino está baseado, não é? Certamente. Cristo não só estabelece o reino, mas acentua as diferenças entre os dois reinos: o do mundo e o de Deus.


Há várias diferenças. A primeira diferença são os valores. Mas há outro ponto divergente. Boa parte dos reinos humanos foram impostos por atos violentos. Cristo, todavia nunca pregou o ódio nem a animosidade entre os homens, mas disse: Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra e Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia e ainda mais: Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus (Mateus 5. 5,7,9).


Se os homens dizem: “felizes os ricos”, Cristo diz felizes os humildes de espírito, se os homens dizem: “felizes os que tem poder para se vingar dos inimigos”, Cristo diz: “amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”. Mas isso tudo não é uma simples pregação moral?


Com certeza, porém há algo mais. A lei do Reino não é algo que podemos cumprir com as nossas próprias forças! Pois quem já mais reagiu pacificamente ao perverso e quem foi que ferido na face direita deu também a face esquerda para que continuasse a lhe bater, ou quem jamais foi magoado e humilhado por quem sempre amou e depois perdoou a pessoa, isso tudo fazendo por instinto natural?


Pois foi o próprio Jesus que disse a Nicodemos: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Pois o que interessa não é fazer o bem de forma interesseira, como quem diz farei a caridade para alcançar o céu ou mesmo a perfeição. Mas Cristo morreu na cruz por você e por mim sem pedir nada em troca. Esqueceu os nossos pecados sem barganhas ou chantagens, porém, apenas pelo santo sangue fez isso.


Percebeu? Essas lições têm tudo para serem as melhores que já ensinamos. Que Deus possa nos ajudar a não só ensinar com competência, mas a viver esse Reino e ajudar-nos a implantá-lo aqui no mundo. Sabemos que o Reino de Deus tem dois aspectos fundamentais: o presente, como nos ensinou Cristo a orar: Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu... (Mateus 6.10), e o futuro.


O futuro é céu, a terra é o presente. Desejemos o céu e não nos esquecemos de desejar o Reino de Deus na terra. O Éden nos foi tirado pelo nosso pecado, o paraíso terrestre é impossível, mas lembremos: somos o sal da terra e a luz do mundo, o sal não pode ser insípido, nem podemos esconder o brilho da luz, sob a pena de perdemos nossa identidade e sermos pisados pelos homens (Mateus 5.13).



P.S.: O Comentarista desse terceiro trimestre, embora, talvez não tão conhecido como os outros comentaristas, não é um estreante. Trata-se do pastor Wagner Gaby (foto ao lado), que já havia feito o comentário no terceiro trimestre de 2008 (As doenças do nosso século: As curas que a Bíblia oferece). 

É advogado e recentemente venceu uma eleição disputadíssima para presidente da Assembleia de Deus no estado do Paraná com uma margem estreita de votos. Mesmo tendo ainda comentado poucas vezes, em vista da sua capacidade, o pastor é um experiente conferencista na área de Escolas Dominicais, além de ser um escritor prolífico escritor e membro da Academia Evangélica de Letras.









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